Uma patrulha única que une tradição amazônica e eficiência policial

    Desde a década de 1990, a Polícia Militar do Pará tem aproveitado uma característica regional de forma estratégica. A utilização de búfalos para o policiamento da Ilha do Marajó garante maior eficiência e mobilidade em um território com áreas frequentemente alagadas. O 8º Batalhão da PM, situado em Soure, incorporou esses animais ao patrulhamento como solução às dificuldades do terreno.

    Um batalhão adaptado ao clima local

    O 8º BPM, conhecido como “Batalhão Marajó”, atua nos municípios de Soure, Salvaterra, Cachoeira do Arari e Santa Cruz do Arari. Segundo informações do governo, é a única unidade policial no Brasil que utiliza búfalos em operações de patrulhamento. O major Ney Marques da Luz, subcomandante do batalhão, enfatiza que o relevo e o clima da região moldam as estratégias operacionais utilizadas.

    As áreas alagadas, comuns durante o inverno e o verão amazônicos, dificultam o uso de viaturas em muitas épocas do ano. Em algumas ocasiões, até o transporte por embarcações é prejudicado, devido às marés e ao solo encharcado. Por isso, os búfalos se tornaram aliados ideais para o policiamento na região.

    “No Marajó, quem dita as regras é a água”, resume o oficial. Os cascos resistentes dos búfalos não apodrecem com a umidade e garantem durabilidade em longas distâncias. Além disso, eles conseguem se alimentar de vegetação submersa, o que lhes proporciona energia constante durante as patrulhas.

    Integração com a comunidade e patrulhamento montado

    Atualmente, o efetivo do 8º BPM conta com seis búfalos, utilizados em diferentes tipos de missões. Nas áreas urbanas, os animais ajudam a orientar moradores e turistas, enquanto nas zonas rurais são empregues em rondas e movimentações. Com isso, o batalhão consegue atuar em locais onde veículos e barcos não conseguem chegar.

    De acordo com o major Ney, essa abordagem fortalece a relação entre a polícia e a comunidade, pois o patrulhamento gera confiança e aproximação. Ele acredita que o policiamento montado em búfalos reafirma o papel social da PM e valoriza a cultura local.

    O sargento Ronaldo Sousa, que atua no batalhão há 26 anos, ressalta que a conexão entre os policiais e os búfalos é essencial para o sucesso das operações. Para ele, a criação dos búfalos desde filhotes é fundamental, pois isso garante docilidade e obediência. “O búfalo deve ser treinado entre um e um ano e meio, para se acostumar ao convívio humano”, destaca Ronaldo.

    Treinamento e a personalidade dos búfalos

    Os búfalos que fazem parte do pelotão policial são geralmente doados por fazendeiros da área, ainda quando filhotes. Eles se adaptam ao ambiente do quartel e ao convívio diário com os policiais desde cedo. O processo de adestramento é cuidadoso e respeita o ritmo natural de cada animal.

    Um dos búfalos mais conhecidos é “Baratinha”, da raça carabao, que atua há 17 anos e deve se aposentar em até quatro anos. Seu nome surgiu devido ao seu comportamento agitado quando era filhote. Já “Minotouro”, da raça mediterrânea, tem oito anos, pesa aproximadamente 800 quilos e é conhecido por sua força e resistência.

    O sargento Ronaldo menciona que Minotouro tem habilidade para atravessar rios com facilidade, muitas vezes liderando as patrulhas fluviais, à frente dos cavalos. Diferentemente dos equinos, os búfalos não têm risco ao submergir suas orelhas na água, garantindo segurança e eficiência nas missões.

    Um símbolo de orgulho cultural

    O brasão do 8º BPM exibe a imagem de um búfalo, destacando sua importância como símbolo da Ilha do Marajó. Em fevereiro de 2023, os búfalos se tornaram inspiração para o enredo da escola de samba Paraíso do Tuiuti, que desfilou no Carnaval do Rio de Janeiro. Esse reconhecimento ajudou a levar a tradição marajoara para o cenário nacional, mostrando como a cultura e o policiamento estão conectados na Amazônia.

    Fora do serviço, os búfalos também fazem parte da rotina da ilha, sendo utilizados para transporte de mercadorias, na alimentação e até em terapias infantis. De acordo com o sargento, os animais são dóceis e essenciais para o dia a dia da população.

    Um modelo que combina tradição, eficiência e respeito ao meio ambiente

    A experiência do “Batalhão Marajó” mostra que tradição e modernidade podem coexistir na segurança pública. Com a utilização dos búfalos, a PM consegue reduzir custos operacionais, aumentar sua presença em áreas isoladas e manter viva uma herança cultural centenária. Além disso, essa iniciativa demonstra respeito ao meio ambiente e integração com o ecossistema local, reforçando o compromisso da corporação com a sustentabilidade.

    Por meio do trabalho realizado pelo batalhão, a população da Ilha do Marajó recebe serviços de segurança com um toque especial de suas tradições. A presença dos búfalos traduz a adaptação e o carinho que os policiais têm pela região. Assim, a Polícia Militar do Pará se destaca não apenas pela eficiência, mas também pela forma como une cultura e segurança em uma abordagem inovadora e respeitosa.

    O uso dos búfalos, um símbolo tão forte do Marajó, demonstra como é possível criar estratégias eficazes para desafios locais e enriquecer as tradições. Assim, o 8º Batalhão se torna um exemplo de como implementar medidas que respeitam tanto a segurança quanto a cultura de uma comunidade.

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