Especialista alerta para a crise na saúde mental e destaca a sobrecarga das mulheres

    O Brasil enfrenta um cenário crítico em relação à saúde mental, marcada por um aumento significativo nos casos de depressão e transtornos mentais. Segundo um estudo que analisou a prevalência de sintomas depressivos de 2013 a 2019, houve um crescimento de quase 40% nos casos do problema no país. Só em São Paulo, estimativas indicam que cerca de 30% da população adulta lida com algum tipo de transtorno mental. No total, aproximadamente 18 milhões de brasileiros convivem com transtornos mentais graves, e a taxa de suicídio, que registra um aumento contínuo, contrasta com a tendência de queda verificada em outras partes do mundo. Além disso, uma pesquisa apontou que 14,9% dos pacientes com depressão relataram dificuldades em acessar serviços de saúde para tratamento.

    A psicóloga Paula Approbato de Oliveira, especialista em neuropsicologia pela Universidade de São Paulo, destaca que o aumento de casos entre crianças com dificuldades emocionais evidencia a necessidade urgente de ampliar o acesso ao suporte adequado e de criar políticas públicas voltadas para a saúde mental. Ela defende que é essencial estabelecer redes de cuidado que atendam continuamente as famílias.

    Mulheres em situação de vulnerabilidade

    Um estudo publicado revela que as mulheres são as mais afetadas pelos transtornos mentais, especialmente depressão e ansiedade. A Organização Mundial da Saúde aponta que elas têm o dobro da prevalência desses problemas ao longo da vida. Essa situação é atribuída a fatores como a sobrecarga de responsabilidades, desigualdade social e violência de gênero.

    De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde, 14,7% das mulheres receberam um diagnóstico de depressão, em comparação com 5,1% dos homens. Outro estudo indicou que as mulheres enfrentam oscilações neurobiológicas que as tornam mais sensíveis ao estresse. A Dra. Paula enfatiza que essa vulnerabilidade não é uma fraqueza, mas sim consequência das múltiplas jornadas que mulheres desempenham, além do machismo estrutural que muitas vezes invalida seus sentimentos.

    A carga mental das mulheres

    Pesquisas mostram que muitas mulheres são responsáveis pelo cuidado dos filhos, pela administração do lar e pelas demandas emocionais da família. Esse acúmulo de funções cria uma “carga mental” que indica as desigualdades de gênero presentes na sociedade. O machismo estrutural muitas vezes desqualifica as emoções dessas mulheres, levando a práticas que descredenciam suas vivências.

    Frases como “você está exagerando” não são apenas comentários isolados, mas refletem uma cultura que tradicionalmente minimiza as experiências emocionais femininas. A Dra. Paula reforça que o sofrimento psicológico não é um sinal de fraqueza, mas um indicativo de coragem, já que as mulheres são as que mais buscam atendimento psicológico e psiquiátrico.

    A importância do cuidado em saúde mental

    A Dra. Paula ressalta que os recentes casos de crianças com dificuldades emocionais mostram a importância de um acompanhamento profissional e de uma integração entre os serviços de assistência. É necessário melhorar os protocolos de prevenção e acolhimento para as famílias.

    Ela conclui afirmando que proteger a saúde mental de todos – mulheres, crianças e homens – é fundamental. O investimento na saúde mental é crucial para evitar crises e fortalecer as redes de apoio. Ampliar o acesso a serviços especializados e integrar diferentes setores de atendimento são passos essenciais para garantir um cuidado mais efetivo à população.

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