Células retiradas dos pulmões de pessoas com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) apresentam uma quantidade maior de depósitos de carbono em comparação às células de fumantes que não têm a doença, conforme um estudo divulgado recentemente. O carbono pode entrar nos pulmões por meio da fumaça de cigarro, dos gases de escapamento de diesel e do ar poluído.
As células em questão, chamadas macrófagos alveolares, têm a função de proteger o corpo ao engolir partículas ou bactérias que chegam aos pulmões. No entanto, os pesquisadores descobriram que, quando essas células são expostas ao carbono, elas aumentam de tamanho e provocam inflamação.
O estudo foi realizado pelos doutores James Baker e Simon Lea, da Universidade de Manchester, no Reino Unido. Baker explicou que a DPOC é uma doença complexa, com vários fatores de risco, tanto ambientais quanto genéticos. Um desses fatores é a exposição ao carbono, resultante do tabagismo ou da inalação de ar poluído.
Os pesquisadores se interessaram em entender o que acontece nos pulmões de pacientes com DPOC quando o carbono se acumula nas células dos macrófagos alveolares, pois isso pode afetar a proteção que essas células oferecem aos pulmões.
Para isso, utilizaram amostras de tecido pulmonar retiradas de cirurgias para investigar possíveis cânceres nos pulmões. Foram analisadas amostras de 28 pessoas com DPOC e 15 fumantes que não tinham a doença.
Ao observar os macrófagos alveolares pelo microscópio, os cientistas mediram o tamanho dessas células e a quantidade de carbono acumulada nelas. Eles descobriram que a média de carbono nas células dos pacientes com DPOC era mais de três vezes maior do que nas células dos fumantes. Além disso, células que apresentavam carbono eram sempre maiores que aquelas sem depósitos visíveis.
Pacientes que tinham depósitos maiores de carbono nos macrófagos alveolares mostraram piora na função pulmonar, medida pelo FEV1%, que avalia quanto e quão forte os pacientes conseguem expelir o ar.
Quando os cientistas expuseram macrófagos a partículas de carbono em laboratório, perceberam que as células ficavam significativamente maiores e que a produção de proteínas que causam inflamação aumentava.
Lea comentou que, ao comparar as células de pacientes com DPOC com as de fumantes, ficou claro que o acúmulo de carbono não é apenas resultado do tabagismo. Ele afirmou que os macrófagos alveolares de pacientes com DPOC contêm mais carbono e são estruturalmente diferentes das células dos fumantes.
O estudo também levanta uma questão importante sobre o porquê do aumento de níveis de carbono nos macrófagos dos pacientes com DPOC. É possível que essas pessoas tenham mais dificuldade em eliminar o carbono que inalavam. Ou, por outro lado, talvez quem esteja exposto a mais partículas sólidas acumule esse carbono e desenvolva DPOC.
Os pesquisadores pretendem, em estudos futuros, investigar como esse acúmulo de carbono ocorre e como as células pulmonares reagem ao longo do tempo.
O professor Fabio Ricciardolo, que é presidente do grupo de monitoramento de doenças das vias aéreas da Sociedade Respiratória Europeia, e não participou da pesquisa, afirmou que os experimentos sugerem que pessoas com DPOC acumulam quantidades incomuns de carbono nas células pulmonares. Esse acúmulo altera essas células, possivelmente provocando inflamação nos pulmões e piorando a função respiratória.
Ele também comentou que a pesquisa oferece algumas pistas sobre como o ar poluído pode causar ou intensificar a DPOC. Contudo, é sabido que fumar e a poluição do ar são fatores de risco para a DPOC e outras doenças respiratórias. Portanto, é crucial diminuir os níveis de poluição no ar que respiramos e ajudar as pessoas a parar de fumar.
O estudo menciona a necessidade de atenção às condições em que as pessoas com DPOC vivem e como a poluição pode impactar ainda mais a saúde delas. Os benefícios de aprofundar essa linha de pesquisa são claros, pois trariam informações valiosas sobre formas de tratamento e prevenção. A ideia é que ao entender melhor o processo de acúmulo de carbono, soluções mais eficientes possam ser desenvolvidas.
Além disso, as descobertas são relevantes tanto para a comunidade médica quanto para formuladores de políticas em saúde pública. Isso porque, com dados concretos sobre os efeitos do carbono nos pulmões, é possível traçar estratégias para minimizar a exposição e suas consequências.
Por fim, o estudo abre espaço para discutir a importância de ambientes mais saudáveis. Essa questão é fundamental para todos, especialmente para aqueles que convivem com doenças respiratórias. Portanto, iniciativas para reduzir a poluição do ar e melhorar a saúde pública são altamente recomendáveis.
No total, esse novo estudo adiciona dados importantes ao entendimento sobre a DPOC e destaca a relação entre poluição do ar e saúde respiratória. As informações podem guiar futuras pesquisas e intervenções que visem à melhoria da qualidade de vida para pessoas que sofrem com essa condição.