A China enfrenta dificuldades para cumprir o acordo comercial com os Estados Unidos sobre a compra de soja. Especialistas do setor afirmam que o país asiático está longe de atingir a meta de 12 milhões de toneladas para a temporada que termina em dezembro. Até o momento, foram registradas apenas 5,7 milhões de toneladas em compromissos de venda pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Para a próxima safra, a meta de 25 milhões de toneladas ainda não teve nenhuma carga comprada.
Um dos principais fatores para essa situação é a competitividade da soja brasileira, que continua atraente mesmo após a redução da tarifa de importação aplicada pela China sobre a soja americana, que caiu de 34% para 13%. Em comparação, a tarifa sobre a soja da América do Sul é de apenas 3%. Essa diferença de 10 pontos percentuais representa uma vantagem de mais de 1 dólar por bushel para o produto brasileiro.
O especialista Carlos Cogo, sócio-diretor da Cogo Inteligência de Mercado, aponta que não há um acordo formal entre os países. O compromisso anunciado pela China parece ser mais uma intenção do que um contrato efetivo. Além disso, Cogo destaca que as autoridades americanas apresentaram prazos diferentes para as compras. Inicialmente, esperava-se que as 12 milhões de toneladas fossem adquiridas até 2025, mas um novo comentário indicou que esse prazo seria até o final de fevereiro de 2024, quando as compras do Brasil costumam aumentar.
O impacto dessa incerteza também pode ser visto nos mercados. Desde que o acordo foi anunciado em novembro, os contratos futuros de soja na Bolsa de Chicago caíram 9%. No Brasil, enquanto isso, os prêmios de exportação estão voltando a ser positivos, embora mais baixos do que nos meses anteriores.
Cogo observa que a China busca mais do que apenas preços baixos ao importar soja brasileira. O país tem se comprometido em encontrar um fornecedor confiável, uma posição que o Brasil tem alcançado desde a guerra comercial anterior e durante a pandemia de Covid-19. Historicamente, o Brasil e os Estados Unidos dividiam igualmente o mercado chinês de soja, mas essa relação mudou. Em um cenário futuro, espera-se que a China importe 85 milhões de toneladas de soja do Brasil e apenas 12 milhões de toneladas dos EUA.
Sobre a situação financeira dos produtores, Cogo aponta que as margens de lucro para a soja em Mato Grosso estão extremamente baixas, registrando apenas 0,9% quando se consideram custos operacionais. Mesmo a margem bruta é considerada historicamente baixa, em cerca de 20%. Com as commodities com preços deprimidos e a taxa de juros alta, que deve cair lentamente no próximo ano, espera-se um aumento contínuo nos pedidos de recuperação judicial entre os produtores. A previsão é que esses pedidos se mantenham elevados, numa curva levemente descendente, mas ainda acima da média histórica.
