Em meio aos desafios da guerra na Ucrânia, médicos encontraram um novo uso para a toxina botulínica, popularmente conhecida como botox. Essa substância, famosa por suavizar rugas, está sendo utilizada para ajudar soldados que perderam membros a lidar com a dor fantasma, uma condição que faz com que o cérebro continue a perceber dor em partes do corpo que não existem mais.

    Pesquisas realizadas por profissionais da Northwestern Medicine, nos Estados Unidos, em parceria com médicos ucranianos, indicam que o tratamento pode trazer resultados positivos. Os dados foram publicados na revista Archives of Physical Medicine and Rehabilitation. O anestesiologista Roman Smolynets, do Hospital Multidisciplinar de Emergência e Terapia Intensiva de Lviv, destacou que os resultados mostram a eficácia da toxina, especialmente quando utilizada em combinação com cuidados médicos e cirúrgicos.

    Desde o início da invasão russa em 2022, muitos soldados e civis ucranianos sofreram amputações, e muitos deles enfrentam dores constantes. A dor fantasma é um problema comum entre amputados, onde a sensação de dor persiste na área onde o membro costumava estar.

    O estudo acompanhou 160 amputados em dois hospitais ucranianos entre 2022 e 2024. Cerca de 20% dos participantes receberam injeções de botox nas áreas afetadas, além do tratamento médico convencional, enquanto o restante seguiu apenas com as terapias tradicionais. Após um mês, aqueles que receberam as injeções relataram uma redução média de 40% na dor fantasma, em comparação aos 10% de melhorias observadas no grupo controle. Um total de 69% dos pacientes que usaram a toxina tiveram melhora significativa, em contraposição a 43% dos demais.

    Os resultados sugerem que o botox pode ser uma ferramenta valiosa para o manejo da dor pós-amputação. No entanto, os benefícios parecem ser temporários, com melhorias desaparecendo após três meses, que coincide com a duração típica do efeito do botox no organismo. Os pesquisadores ainda estão investigando se injeções periódicas poderiam oferecer um alívio mais duradouro.

    Além de atuar na dor, o tratamento também ajudou alguns pacientes a melhorar a utilização de próteses e a recuperar a mobilidade. O botox foi aplicado de forma diferente do uso estético, sendo injetado ao redor das terminações nervosas para reduzir a atividade neural e a inflamação local.

    Esse método pode também apontar novas oportunidades para o tratamento de outros tipos de dor neuropática, como em casos de herpes-zóster e na síndrome do túnel do carpo. Diante do aumento dos feridos devido à guerra, pesquisadores estão explorando terapias inovadoras para tratar lesões cerebrais traumáticas e transtornos de estresse pós-traumático (TEPT) nos soldados ucranianos.

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