A equipe de pesquisa do Instituto de Ciência Básica (IBS) descobriu uma enzima nova chamada SIRT2, que tem um papel importante na perda de memória relacionada ao Alzheimer. Este estudo, liderado por C. Justin LEE, do Centro de Cognição e Sociabilidade do IBS, traz informações valiosas sobre como os astrócitos contribuem para o declínio cognitivo ao produzirem grandes quantidades do neurotransmissor inibitório GABA.

    Os astrócitos, que antes eram vistos apenas como apoio para os neurônios, agora são reconhecidos por influenciar ativamente o funcionamento do cérebro. Na doença de Alzheimer, os astrócitos se tornam reativos, ou seja, mudam seu comportamento devido à presença de placas de amiloide-beta (Aβ), uma característica marcante da doença. Embora tentem remover essas placas, esse processo leva a uma reação em cadeia prejudicial.

    Primeiro, os astrócitos conseguem absorver essas placas por meio de autofagia e degradá-las através do ciclo da ureia. No entanto, essa degradação resulta na produção excessiva de GABA, que diminui a atividade cerebral e causa problemas de memória. Além disso, esse processo gera peróxido de hidrogênio (H2O2), um subproduto tóxico que causa ainda mais morte neuronal e neurodegeneração.

    A equipe de pesquisadores do IBS tentou descobrir quais enzimas estavam ligadas à produção excessiva de GABA, buscando uma maneira de bloquear seus efeitos nocivos sem interferir nas outras funções do cérebro. Por meio de análises moleculares, imagens microscópicas e eletrofisiologia, eles identificaram SIRT2 e ALDH1A1 como enzimas chave na superprodução de GABA nos astrócitos afetados pelo Alzheimer.

    Os pesquisadores verificaram que a proteína SIRT2 estava aumentada nos astrócitos de um modelo animal comum de Alzheimer e também em cérebros humanos de pacientes que faleceram com a doença. Ao inibir a expressão da SIRT2 nos astrócitos dos ratos com Alzheimer, os cientistas perceberam uma recuperação parcial da memória e uma redução na produção de GABA. A pesquisadora Mridula BHALLA, autora principal do estudo, comentou que, apesar de esperarem uma redução no GABA, apenas a memória de curto prazo dos ratos teve melhora, enquanto a memória espacial não apresentou mudanças. Isso foi empolgante, mas deixou mais perguntas em aberto.

    A SIRT2 participa da etapa final da produção de GABA, enquanto o H2O2 é gerado antes nesse processo. Isso indica que o H2O2 pode continuar sendo produzido e liberado pelas células, mesmo sem a SIRT2. O diretor C. Justin LEE afirmou que, ao inibir a SIRT2, a produção de H2O2 continuou, o que significa que a degeneração neuronal pode prosseguir mesmo com a redução do GABA.

    Agora que SIRT2 e ALDH1A1 foram identificadas como alvos, os cientistas podem inibir a produção de GABA sem afetar os níveis de H2O2. Essa descoberta é crucial, pois permite que os pesquisadores separem os efeitos do GABA e do H2O2, estudando como cada um deles contribui para a neurodegeneração.

    C. Justin LEE destacou a relevância das descobertas, explicando que, até o momento, os pesquisadores usavam inibidores da MAOB no estudo da doença de Alzheimer, que bloqueiam a produção tanto de H2O2 quanto de GABA. Ao identificar SIRT2 e ALDH1A1 como enzimas a jusante da MAOB, agora é possível inibir a produção de GABA sem interferir na geração de H2O2. Isso pode permitir o aprofundamento nos efeitos de cada molécula e no seu papel na progressão da doença.

    Embora SIRT2 não seja um alvo direto para medicamentos devido ao seu impacto limitado na neurodegeneração, essa pesquisa abre caminhos para estratégias terapêuticas mais precisas. O objetivo é controlar a reatividade dos astrócitos na doença de Alzheimer, visando melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

    A descoberta de SIRT2 é um avanço importante na compreensão do Alzheimer. Esse tipo de pesquisa é essencial para desenvolver novos tratamentos que possam atuar diretamente nas causas da doença, e não apenas em seus sintomas. Entender como os astrócitos se comportam e como produzem GABA e H2O2 é fundamental para encontrar soluções eficazes.

    Além disso, a relação entre as enzimas identificadas e os processos celulares envolvidos na neurodegeneração poderá ajudar na formulação de medicamentos mais eficazes no futuro. Pesquisas como essa podem fornecer base sólida para intervenções clínicas que visem a recuperação da memória e a preservação das funções cognitivas.

    A pesquisa ainda está em andamento, e novos dados podem surgir, trazendo mais luz aos mecanismos envolvidos no Alzheimer. Essa troca de informações e o avanço no conhecimento científico será crucial para que profissionais da saúde possam agir de forma mais assertiva em relação a essa doença.

    Portanto, a identificação de SIRT2 e ALDH1A1 representa um passo significativo na busca por tratamentos que possam alterar a trajetória da doença de Alzheimer. O entendimento de como os astrócitos afetam o cérebro pode revolucionar a abordagem em relação ao cuidado e manejo da doença. Espera-se que essas descobertas impulsionem novas pesquisas e inovação no tratamento do Alzheimer, beneficiando milhõe de pessoas afetadas ao redor do mundo.

    Preservar a cognição é um desafio que precisa ser enfrentado com seriedade e dedicação. À medida que o conhecimento avança, a esperança de tratar e até prevenir a doença de Alzheimer aumenta com cada nova descoberta. Assim, o trabalho do IBS é um exemplo de pesquisa que visa impactar positivamente a vida das pessoas e abrir novas fronteiras no entendimento do cérebro humano.

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