Dois pequenos ajustes no DNA dos humanos podem ter sido fundamentais para que nossos ancestrais conseguissem andar em pé. É isso que apontam pesquisadores em um estudo recente.
A pesquisa, publicada em uma revista científica, revelou que essas alterações mudaram a forma como um importante osso da bacia se desenvolve. Graças a isso, os primeiros humanos conseguiram ficar em pé, se equilibrar e caminhar sobre duas pernas, ao invés de se locomoverem como os primatas, que andam com as quatro patas.
Uma das mudanças fez com que o ílio — o osso curvado que sentimos quando colocamos as mãos nos quadris — girasse 90 graus. Essa rotação alterou a forma como os músculos se ligavam à pelve, transformando uma estrutura que antes servia para escalar em uma adaptada para andar ereto.
A outra mudança genética retardou o processo de endurecimento do ílio, permitindo que ele crescesse mais para os lados e formasse uma pelve curta e em forma de tigela. A pesquisa destacou que essas mudanças foram cruciais para criar e mover os músculos que, antes, empurravam o corpo para frente. Agora, esses músculos estão dispostos de maneira que ajudam a manter o equilíbrio enquanto andamos.
Os pesquisadores analisaram amostras de tecidos da pelve em desenvolvimento de humanos, chimpanzés e camundongos, utilizando técnicas de imagem como a tomografia computadorizada. Eles observaram que, em humanos, a cartilagem da pelve cresce para os lados, ao contrário do que acontece em outros primatas, onde o crescimento é vertical. Essa diferença permite que a pelve se alargue à medida que se forma.
Uma investigação mais aprofundada revelou que a diferença se deve a mudanças sutis na regulação de genes, que são como “interruptores” que controlam como e quando certos genes estão ativos. Nos humanos, os genes responsáveis pela formação da cartilagem se ativaram em novas regiões, estimulando o crescimento horizontal. Por outro lado, os genes que formam o osso ativaram-se mais tarde, atrasando o processo de endurecimento.
Como os primatas compartilham a maioria dos genes que controlam o desenvolvimento, os cientistas acreditam que essas mudanças apareceram cedo na evolução humana, após nossos ancestrais se separarem dos chimpanzés. Uma especialista em antropologia, que não participou do estudo, destacou que essa diferença não é apenas sobre a rotação do osso, mas também sobre um jeito novo de crescer.
Esse projeto não começou como um estudo sobre evolução. Os pesquisadores, apoiados por um instituto de saúde, queriam entender como a pelve se forma para melhorar tratamentos de distúrbios de quadril. O objetivo era focar na pesquisa biomédica, buscando entender como a pelve se desenvolve e, mais importante, por que ela é diferente de outros primatas e camundongos.
Além disso, os mesmos ajustes evolutivos que possibilitaram o andar ereto também podem ter tornado o quadril humano mais suscetível à osteoartrite, segundo os pesquisadores. A ampliação dessa estrutura também pode ter criado uma passagem mais ampla para o parto, facilitando o nascimento de bebês com cérebros maiores, à medida que a evolução avançava.
Ao final, o estudo fornece novas pistas sobre como a biologia humana se desenvolveu ao longo do tempo. Essa pesquisa traz informações valiosas sobre como essas mudanças no DNA moldaram não apenas a nossa maneira de andar, mas também influenciaram características importantes do corpo humano que ainda podem ter efeitos até hoje.
Em resumo, entender essas alterações genéticas nos ajuda a compreender melhor a nossa história evolutiva. E isso é crucial para sabermos como nossas características físicas se diferenciaram e por que somos como somos hoje.
