Recentes estudos sugerem que o colesterol tem um papel crucial tanto na saúde do cérebro quanto em seu declínio. Essa gordura é composta de diferentes tipos, que podem ter efeitos opostos. No corpo humano, existem dois tipos principais de colesterol: o HDL, conhecido como colesterol “bom”, e o LDL, o colesterol “ruim”.
O cérebro humano é formado por cerca de 60% de gordura, sendo o colesterol uma componente essencial para o funcionamento adequado do órgão. Ele ajuda a manter a estrutura das células nervosas e a transmissão de sinais elétricos. Entretanto, não se pode falar genericamente sobre colesterol; precisamos considerar a qualidade e a composição dele.
O neurologista Marco Túlio Pedatella, coordenador de Neurologia em um hospital, explica que a relação entre colesterol e cérebro é complexa. O colesterol HDL pode ter efeitos positivos, enquanto o excesso de LDL pode ser prejudicial. O equilíbrio é importante; as gorduras saudáveis são vitais para a saúde dos neurônios, mas altas concentrações de LDL estão ligadas a inflamações e comprometimento cognitivo.
Um estudo realizado por cientistas da Universidade do Texas revelou que níveis elevados de HDL estão associados a um maior volume de matéria cinzenta no cérebro, algo que pode ajudar na preservação da função cognitiva com o passar dos anos. Essa relação se mantém até mesmo em pessoas portadoras do gene ApoE4, que está associado ao Alzheimer.
Outra pesquisa focou nos riscos do colesterol LDL. Os resultados indicaram que níveis elevados desse tipo de colesterol entre 40 e 65 anos aumentam significativamente as chances de desenvolver Alzheimer e outras demências mais tarde na vida. Os pesquisadores descobriram que o LDL pode paralisar as microglias, que são células de defesa do cérebro, dificultando a eliminação de placas amiloides, que estão ligadas ao Alzheimer. Ao remover uma enzima relacionada ao LDL, a função das microglias foi totalmente recuperada.
Os especialistas enfatizam que manter um equilíbrio no metabolismo das gorduras é fundamental para a saúde cerebral ao longo da vida. Um desequilíbrio no colesterol pode prejudicar a comunicação entre os neurônios e afetar o desempenho cognitivo. A boa notícia é que controlar os níveis de colesterol, especialmente o LDL, pode diminuir o risco de problemas de memória e cognição. Uso de medicamentos e mudanças na dieta podem beneficiar tanto a saúde do coração quanto a do cérebro.
É importante mencionar que o colesterol presente no cérebro é produzido localmente e não se mistura facilmente com o colesterol de outras partes do corpo, por isso pode apresentar uma dinâmica diferente. Essa propriedade ajuda a proteger o sistema nervoso de alterações bruscas nos níveis de colesterol circulante. Contudo, problemas como a síndrome metabólica podem afetar indiretamente o colesterol cerebral.
Pessoas com condições como obesidade, hipertensão e baixos níveis de HDL frequentemente apresentam um volume cerebral reduzido. Além disso, a idade em que o colesterol se eleva é um fator determinante para o risco de demência. A relação é mais intensa durante a meia-idade, enquanto, após os 70 anos, essa associação se torna menos evidente.
A cardiologista Fabiana Hanna Rached ressalta a necessidade de mais pesquisas para entender como intervenções precoces, como uma dieta balanceada e controle de peso, podem beneficiar a saúde do cérebro. Embora ainda haja muitas perguntas a serem respondidas, manter o colesterol sob controle é fundamental não apenas para a saúde cardiovascular, mas também para a saúde cerebral. Cuidar da alimentação, praticar exercícios físicos e seguir tratamentos médicos quando necessário são ações que também promovem uma boa saúde mental.
