Covid-19: desafios na saúde cardiovascular cinco anos após o pico da pandemia
Cinco anos após o auge da pandemia de Covid-19, a doença continua a deixar sequelas no corpo, especialmente relacionadas ao coração e à circulação. Mesmo pessoas com acesso a cuidados médicos avançados, como os famosos, estão enfrentando complicações. O ator Tom Hanks, por exemplo, falou abertamente sobre sua infecção por Covid-19 e os cuidados de saúde que precisou seguir. Artistas como Selena Gomez e a cantora Joelma também compartilham relatos sobre a fadiga e as alterações físicas que persistem após a infecção.
Esses casos evidenciam que os efeitos da Covid-19 sobre a saúde do coração podem afetar qualquer um, o que torna urgente a adoção de protocolos de acompanhamento adequados. De acordo com o cardiologista Alexandre Miguel Haisi Klita, especialista em imagem cardiovascular e gestor do Centro Cardiovascular da Unimed Chapecó, estamos vivendo uma nova fase da pandemia, caracterizada por desafios crônicos. O médico ressalta que a ciência já demonstrou um impacto significativo na saúde cardiovascular de muitos que se recuperaram da Covid-19, mas o sistema de saúde ainda não está estruturado para oferecer o acompanhamento necessário.
Desde 2020, estudos têm mostrado que a infecção pelo coronavírus pode causar problemas cardíacos e vasculares que vão além da fase aguda. No entanto, essa questão ainda não é totalmente compreendida nem monitorada na prática clínica. Klita aponta que não adianta somente formar bons médicos; é necessário também treinar gestores que possam transformar o conhecimento científico em diretrizes práticas e funcionais. Ele destaca que é preciso uma coordenação eficiente, pois há um grande hiato entre conhecimento e prática na saúde. A falta de uma política clara para o acompanhamento pós-Covid agrava a situação, pois atualmente o atendimento aos pacientes depende muito da iniciativa individual dos médicos.
Schita também observa que a estrutura dos serviços de saúde precisa ser aprimorada. Embora a atenção ao vírus tenha sido intensa, a capacidade da rede de saúde para lidar com suas consequências permanece deficiente. A falta de padronização e fluxos claros para diagnóstico e acompanhamento ainda é uma realidade. Para ele, o próximo passo na medicina não deve ser apenas um avanço tecnológico, mas sim uma organização e coordenação no sistema de saúde.
O cardiologista alerta que a demanda sobre os profissionais de saúde está crescendo constantemente, mas o número de especialistas não acompanha essa necessidade. Ele enfatiza que a gestão hospitalar deve incluir a preocupação com o bem-estar dos profissionais de saúde que prestam esse atendimento.
Ferramentas digitais, como a inteligência artificial, podem ajudar na triagem e priorização de casos, mas o planejamento humano e o trabalho em equipe são fundamentais. Klita lembra que a pandemia mostrou que a improvisação pode funcionar no curto prazo, mas compromete o longo prazo. Por isso, é essencial ter protocolos que protejam não apenas os pacientes, mas também os profissionais da saúde.
Enquanto muitos países buscam retornar à normalidade pré-pandemia, as sequelas cardiovasculares da Covid-19 formam uma herança invisível. Milhões de pessoas no mundo relatam sintomas persistentes, e a medicina começa a reconhecer que o impacto pode durar por décadas. Segundo Klita, o que está em jogo não é apenas o cuidado de cada pessoa, mas a capacidade do sistema de saúde de lidar com uma nova carga de doenças crônicas. Ele finaliza afirmando que para criar um sistema de saúde resiliente e eficaz, é necessário ter coordenação, liderança e protocolos bem definidos.
