A cadeia de fornecimento de medicamentos nos Estados Unidos depende fortemente de ingredientes vindos da China, e especialistas alertam que uma guerra comercial pode colocar em risco a saúde dos pacientes americanos.

    Uma análise recente mostrou que quase 700 medicamentos utilizados nos EUA têm pelo menos um componente químico que só é encontrado na China, segundo a U.S. Pharmacopeia, uma organização sem fins lucrativos que monitora o suprimento de medicamentos. Esses componentes são essenciais para tratar doenças comuns, como problemas cardíacos, câncer e HIV.

    Os resultados foram divulgados em um momento em que as tensões entre os EUA e a China continuam aumentando. Carrie Harney, uma funcionária da U.S. Pharmacopeia, disse que espera que a disponibilização de melhores dados possa ajudar a criar intervenções direcionadas para aumentar a segurança e a resiliência para os pacientes.

    A China é a única fonte conhecida de certos ingredientes em antibióticos, como a amoxicilina, e em medicamentos genéricos para tratamento de convulsões, alergias e problemas cardíacos. Mesmo o Benadryl, um remédio popular contra alergias, contém componentes químicos originários da China.

    Embora fábricas em países como Índia e Canadá cuidem das etapas finais da produção, a China ainda domina as etapas principais. Produzir esses materiais básicos nos EUA é visto como algo pouco rentável, já que os custos de mão de obra são mais altos e as regras ambientais são mais rigorosas, enquanto as fábricas chinesas conseguem produzir a preços mais baixos.

    Recentemente, o ex-presidente Donald Trump sugeriu uma tarifa de 100% sobre todos os produtos da China. Essa medida pode aumentar os preços de medicamentos que dependem de ingredientes chineses. O governo informou que os medicamentos genéricos não enfrentarão tarifas, mas muitas empresas farmacêuticas conhecidas estão se apressando para construir ou expandir suas fábricas nos EUA, pressionadas a trazer a produção para o país.

    No entanto, especialistas afirmam que essas novas fábricas não vão resolver o problema central. A maioria delas está projetada para lidar com as etapas finais da produção de medicamentos, e não com os produtos químicos que ainda vêm do exterior. O processo de fabricação de medicamentos costuma envolver várias etapas em diferentes países: matérias-primas da China, ingredientes ativos da Índia e as formulações finais de outros lugares. Assim, mesmo remédios que parecem ser feitos globalmente podem depender da China.

    Por exemplo, embora fábricas na Jordânia, Índia e Canadá fabriquem a amoxicilina pronta, dois de seus ingredientes básicos são fabricados unicamente na China. Essa complexidade mostra como a globalização toca o setor de medicamentos, e como dependemos de diversas fontes internacionais para garantir o acesso a tratamentos necessários.

    Esse cenário exige atenção e estratégias que promovam uma cadeia de suprimentos mais forte e diversificada. Uma dependência excessiva de um único país pode deixar um país vulnerável a surtos econômicos, guerras comerciais ou crises de saúde. Portanto, a discussão sobre como fortalecer a produção interna de medicamentos é mais do que uma questão de economia, envolve a saúde e o bem-estar de milhões de pessoas.

    É preciso explorar caminhos para reduzir essa dependência. Algumas soluções incluem incentivos para a produção local de ingredientes ativos e a criação de parcerias com outros países que possam oferecer alternativas. A transparência no abastecimento de medicamentos também é vital, para que os pacientes e as autoridades tenham plena consciência de como e onde os remédios são produzidos.

    Além disso, os governos devem se empenhar em estimular a pesquisa e o desenvolvimento de novas tecnologias que possam facilitar a produção de medicamentos nos Estados Unidos e em outros países menos dependentes da China. Essa é uma prioridade que pode garantir não apenas acesso a tratamentos com segurança, mas também a autonomia na produção de saúde.

    A saúde pública é um componente essencial da segurança nacional. Portanto, é fundamental que todos os envolvidos – governos, indústrias e comunidade – unam forças para enfrentar os desafios atuais e futuros na cadeia de suprimentos de medicamentos.

    Em resumo, a situação atual da cadeia de suprimentos dos medicamentos nos EUA é complexa e demanda uma ação imediata. A dependência excessiva de ingredientes químicos da China também revela a fragilidade desse sistema. Com o aumento das tensões globais e possíveis barreiras comerciais, os riscos para a saúde da população tornam-se mais evidentes e precisam ser tratados com seriedade.

    Estamos diante de um momento em que a saúde e o acesso a medicamentos podem se tornar um tema ainda mais emergente. O diálogo e a colaboração entre países podem ajudar a fortalecer a rede de suprimento de medicamentos, garantindo que as pessoas não fiquem sem os remédios de que precisam. A busca por soluções inovadoras e um sistema mais robusto deve ser uma prioridade para todos os que se preocupam com a saúde pública e o bem-estar da população.

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