A nova novela das nove da Rede Globo, Três Graças, traz à tona a vida de três gerações de mulheres unidas pela experiência da maternidade na adolescência. A narrativa gira em torno de Lígia, sua filha Gerluce e a neta Joélly, abordando os desafios enfrentados por jovens mães. A obra destaca a importância do suporte familiar, a superação de obstáculos e a luta por melhores condições de vida. A realidade retratada é um reflexo de situações que ainda afetam muitas mulheres, especialmente em Minas Gerais.
Entre janeiro e agosto de 2025, Minas Gerais registrou mais de 12 mil nascimentos de mães de 10 a 19 anos, o que representa uma média de 51 partos diários. Esses números são mais que estatísticas; são histórias de vida marcadas por desafios e adaptações.
Uma dessas histórias é a de Thamara Sanches, que se tornou mãe aos 13 anos. Hoje com 25, ela tem uma filha de 12 anos. Segundo Thamara, a descoberta da gravidez mudou sua vida completamente. “Precisei amadurecer rapidamente. Estudava, trabalhava e cuidava da minha filha. Foi complicado, mas consegui me formar e avançar na vida. O apoio da minha família foi fundamental”, relata. Durante sua jornada, Thamara trabalhava como cabeleireira e administrava um pequeno comércio, enquanto sua mãe cuidava da neta. A expectativa de apoiar a filha e concluir os estudos eram constantes em sua rotina.
A professora e socióloga Antonia Montenegro, da PUC Minas, destaca que o índice de 9% de nascimentos de mães adolescentes no estado é preocupante. Segundo ela, muitas dessas jovens não têm maturidade emocional para assumir a responsabilidade de ser mães. A gravidez na adolescência, conforme explica, está frequentemente ligada a fatores sociais, econômicos e educacionais. A maternidade precoce pode levar ao abandono escolar, pois muitas vezes as jovens interrompem os estudos para cuidar dos filhos, o que limita suas perspectivas futuras.
Antonia também enfatiza que a falta de acesso a creches e a necessidade de trabalhar para sustentar os filhos aumentam a vulnerabilidade dessas mães. “Muitas vezes, é como se uma criança estivesse criando outra criança”, afirma. Ela ainda ressalta a importância de um diálogo aberto sobre sexualidade nas famílias, o que muitas vezes não acontece, deixando as adolescentes despreparadas e mais expostas a riscos.
A psicóloga Letícia Rezende complementa dizendo que a maternidade precoce pode ser acompanhada de instabilidades emocionais. “As jovens enfrentam medos sobre o futuro, preocupações com a reação dos parceiros e com as responsabilidades novas que surgem”, alerta.
Relatos de jovens mães, como o de Isabela, de 18 anos, e Raquel, de 42 anos, ilustram esses desafios emocionais. Isabela admite que a gestação foi uma surpresa e, embora tenha enfrentado inseguranças no começo, recebeu apoio da família. Raquel, que engravidou aos 14 anos, relata ter lidado com dificuldades emocionais e familiares, destacando os desafios que a maternidade precoce trouxe para sua vida.
Marcely, outra jovem grávida de 18 anos, vive as incertezas que vêm com a gestação. “A família tem sido meu suporte em tudo neste período desafiador”, afirma. Apesar das dificuldades, Marcely tenta conciliar estudos e trabalho, buscando um equilíbrio para sua nova vida.
A ginecologista Carolina Soares alerta que a gestação na adolescência pode apresentar sérios riscos à saúde, tanto para as mães quanto para os bebês. Ela explica que o corpo da adolescente ainda está em desenvolvimento e pode enfrentar complicações durante a gravidez.
A falta de informação sobre métodos contraceptivos é um dos fatores que agravam a situação. Muitas adolescentes não têm acesso a diálogo sobre sexualidade, o que, de acordo com Carolina, precisa ser abordado diretamente nas escolas e famílias para evitar gravidezes indesejadas.
De acordo com especialistas, políticas públicas e programas de apoio são essenciais para ajudar adolescentes grávidas. O governo de Minas Gerais já realiza campanhas para conscientizar a população sobre a prevenção da gravidez na adolescência, oferecendo acesso a métodos contraceptivos e promovendo a educação sexual nas escolas.
O projeto Colméia, em Belo Horizonte, é um exemplo de iniciativa que acolhe adolescentes grávidas e oferece suporte em saúde, educação e empregabilidade. Com mais de 70 anos de atuação, o projeto dialoga com outras instituições para ampliar o atendimento e apoio às jovens mães.
Essas questões todas revelam a complexidade da maternidade na adolescência e a necessidade de um olhar cuidadoso da sociedade para que, seja por meio de suporte familiar, educacional ou político, as jovens possam ter opções melhores para o futuro.
