Efeitos a Longo Prazo da Dieta Cetogênica

    Um novo estudo mostra que a dieta cetogênica pode impedir o ganho de peso, mas também pode gerar sérios problemas metabólicos a longo prazo. Pesquisadores descobriram que camundongos que seguiram essa dieta por um longo tempo desenvolveram doenças como a gordura no fígado e dificuldades na regulação do açúcar no sangue.

    Esses problemas foram mais comuns em machos. As fêmeas apresentaram uma resistência parcial ao acúmulo de gordura no fígado. As descobertas reforçam a importância de ter cuidado e supervisão médica antes de adotar a dieta cetogênica a longo prazo, pois alguns efeitos negativos podem melhorar depois que a dieta é interrompida.

    Fatos em Destaque:

    • Estresse Metabólico: A dieta cetogênica a longo prazo aumentou o acúmulo de gordura no fígado e prejudicou a secreção de insulina.
    • Diferenças entre os Sexos: Camundongos machos desenvolveram doenças mais graves relacionadas à gordura no fígado do que as fêmeas.
    • Efeitos Reversíveis: Alguns problemas metabólicos melhoraram após a interrupção da dieta, trazendo esperança de recuperação.

    O Que é a Dieta Cetogênica?

    A dieta cetogênica é uma dieta rica em gordura e muito pobre em carboidrato, inicialmente criada para tratar a epilepsia. A ideia é que essa dieta induz a um estado chamado cetose, onde o corpo produz corpos cetônicos que funcionam como combustível alternativo para o cérebro, ajudando a estabilizar a atividade neuronal e reduzir as convulsões.

    Essa abordagem simula a fome, onde a redução da disponibilidade de glicose também limita as convulsões, sendo que os corpos cetônicos derivados das gorduras fornecem a principal fonte de energia para o cérebro. Com o tempo, essa dieta começou a ser promovida para perda de peso e melhora da saúde metabólica, mas a maioria dos estudos até agora focou nos resultados de curto prazo.

    Molly Gallop, liderando o estudo, comentou que já existiam estudos sobre o impacto de curto prazo, mas não havia muita pesquisa sobre o que acontece a longo prazo ou em outras áreas da saúde metabólica.

    O Estudo com os Camundongos

    Para preencher essa lacuna, Gallop e sua equipe realizaram um estudo longo com camundongos, dividindo os animais em quatro grupos e oferecendo diferentes dietas: uma dieta ocidental rica em gorduras, uma dieta baixa em gorduras e rica em carboidratos, a clássica dieta cetogênica onde quase todas as calorias vêm de gorduras e uma dieta baixa em gorduras, mas equilibrada em proteínas. Os camundongos puderam comer à vontade durante nove meses ou mais.

    Durante o estudo, a equipe monitorou o peso corporal, a ingestão de alimentos, os perfis de gordura no sangue, o acúmulo de gordura no fígado e os níveis de açúcar e insulina no sangue. Eles também analisaram quais genes estavam ativos nas células do pâncreas que produzem insulina. Usaram ainda técnicas de microscopia avançada para entender os mecanismos celulares por trás das mudanças metabólicas observadas.

    A dieta cetogênica foi efetiva em impedir o ganho de peso em ambos os sexos em comparação com a dieta ocidental rica em gorduras. Os camundongos que seguiram a dieta cetogênica mantiveram um peso corporal significativamente mais baixo, com o ganho de peso sendo atribuído principalmente ao aumento da massa gorda e não à massa magra.

    Complicações Metabólicas Emergentes

    Apesar desse aparente benefício, os camundongos que foram alimentados com a dieta cetogênica desenvolveram complicações metabólicas graves, com algumas mudanças surgindo dentro de dias. A acumulação de gordura no fígado, conhecida como doença hepática gordurosa, é um sinal de doença metabólica associada à obesidade.

    Os pesquisadores notaram diferenças notáveis na resposta à dieta cetogênica entre machos e fêmeas. Os machos apresentaram doenças hepáticas mais graves e função hepática comprometida, um marcador importante da saúde metabólica. Já as fêmeas não mostraram acúmulo significativo de gordura no fígado. A equipe planeja investigar por que as fêmeas não desenvolveram essa doença no futuro.

    Um ponto curioso surgiu em relação à regulação do açúcar no sangue. Após dois a três meses na dieta cetogênica, os camundongos mostraram baixos níveis de açúcar e insulina. Porém, quando expostos a uma quantidade maior de carboidratos, a resposta deles foi totalmente desregulada. A glicemia dos camundongos subiu muito e demorou para voltar ao normal, representando um grande risco.

    Os pesquisadores descobriram que os camundongos não conseguiam regular corretamente o açúcar no sangue, pois as células do pâncreas não estavam secretando insulina suficiente. Isso pode ser explicado pelo estresse crônico causado pelos altos níveis de gordura em seu ambiente, que afetaram a capacidade das células pancreáticas de produzir proteínas adequadamente.

    A equipe acredita que a regulação prejudicada do açúcar no sangue é resultado desse estresse celular, mas identificar o mecanismo exato será tema de pesquisas futuras. Um dado importante é que os problemas de regulação de açúcar melhoraram quando os camundongos saíram da dieta cetogênica, sugerindo que alguns problemas metabólicos podem não ser permanentes.

    Considerações Finais

    Os camundongos e os humanos têm diferenças, mas as descobertas levantam questões importantes sobre os riscos de saúde metabólica de longo prazo que devemos considerar ao pensar em seguir uma dieta cetogênica. Por isso, é fundamental que qualquer pessoa que esteja pensando em começar essa dieta converse com um profissional de saúde.

    Compreender os efeitos a longo prazo da dieta cetogênica é essencial. Embora ela possa ajudar na perda de peso, os riscos associados a complicações metabólicas sérias precisam ser cuidadosamente avaliados. É importante lembrar que não existe dieta perfeita e que cada organismo reage de forma diferente. Conversar com um médico ou nutricionista antes de fazer mudanças na alimentação é sempre a melhor escolha.

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