Na manhã da última quarta-feira (3/12), Brasília sediou o lançamento da série The Lancet sobre Alimentos Ultraprocessados e Saúde Humana. O evento aconteceu no auditório externo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e teve como objetivo divulgar artigos da renomada revista acadêmica. Pesquisadores e especialistas estiveram presentes para discutir os impactos desses alimentos na saúde da população.
Entre os palestrantes estavam os autores da série, Carlos Monteiro e Patrícia Jaime, ambos do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (Nupens-USP), além do professor Phillip Baker, da Universidade de Sydney, na Austrália. Representantes de ministérios e agências da Organização das Nações Unidas (ONU) também compareceram ao evento, que incluiu a apresentação de uma agenda global de políticas públicas para enfrentar o aumento do consumo de alimentos ultraprocessados.
Carlos Monteiro, reconhecido como o criador do conceito de ultraprocessados, explicou que há três anos um grupo de 43 pesquisadores, provenientes de universidades de cinco continentes, desenvolveu esta série de estudos. Ele destacou que a substituição de alimentos tradicionais por ultraprocessados, como a troca de água e sucos naturais por refrigerantes, é um fator importante relacionado ao aumento de doenças crônicas, como diabetes e obesidade.
Monteiro introduziu uma nova classificação dos alimentos, dividindo-os entre quatro grupos: alimentos não processados ou minimamente processados, ingredientes culinários processados, alimentos processados e alimentos ultraprocessados. Segundo ele, os ultraprocessados não devem ser considerados verdadeiros alimentos, mas sim formulações industriais com ingredientes que o organismo não consegue metabolizar.
O professor ressaltou que no Brasil houve um aumento no consumo de ultraprocessados e um impacto negativo na qualidade da dieta, levando ao surgimento de doenças crônicas. Ele pediu uma resposta sanitária global e enfatizou a importância de políticas que considerem todos os aspectos do sistema alimentar, desde a produção até a publicidade desses produtos.
Patrícia Jaime, que co-autora um dos artigos da série, reforçou a necessidade de políticas públicas que visem reduzir o consumo de ultraprocessados. Uma das propostas é que todos os alimentos ultraprocessados sejam identificados com um número 4 nas embalagens. Ela também mencionou a importância de considerar o perfil nutricional de cada país e a necessidade de apresentar alternativas alimentares saudáveis.
O professor Phillip Baker trouxe à tona a questão econômica dos ultraprocessados, comparando-os ao tabaco devido ao vício e à publicidade associada. Ele defendeu a criação de estratégias para lidar com as empresas que produzem esses alimentos, que frequentemente priorizam o lucro.
Rita Lobo, cozinheira, escritora e empresária, participou do evento como mediadora do debate. Ela enfatizou a importância de valorizar a comida de verdade e a culinária como parte da saúde pública. Lobo destacou que cozinhar é uma habilidade que pode ser aprendida por todos, e que uma nova compreensão sobre os alimentos e seus processamentos é essencial para incentivar uma alimentação mais saudável.
Ao final do evento, ficou claro que a discussão sobre alimentos ultraprocessados e suas consequências para a saúde é urgente e requer uma colaboração entre pesquisadores, governos e sociedade.
