A incidência do tabagismo nas comunidades tradicionais da Amazônia Legal é alarmante e supera a média da população geral da região. Dados de uma pesquisa recente revelam que 12% das pessoas que vivem em comunidades como indígenas, seringueiros, quilombolas e ribeirinhos afirmam ser fumantes. Por outro lado, o índice de fumantes entre os demais moradores da Amazônia Legal é de apenas 6%.
A pesquisa, chamada “Mais Dados, Mais Saúde”, foi realizada pelas organizações de saúde Vital Strategies e Umane, com o apoio do instituto Devive. A amostra incluiu 4.037 pessoas, distribuídas por todos os estados da Amazônia Legal, e as entrevistas ocorreram entre maio e julho deste ano.
O Censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) aponta que a Amazônia Legal abriga cerca de 867.919 indígenas e 427.801 quilombolas, mostrando a diversidade cultural e a importância dessas comunidades no território. No total, a região é habitada por aproximadamente 26,7 milhões de pessoas, distribuídas entre os nove estados: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, Mato Grosso e parte do Maranhão.
Além do tabagismo, a pesquisa revelou que 12,3% da população da Amazônia Legal consome álcool regularmente, ou seja, em três ou mais dias da semana. Esse percentual é significativamente maior do que a média nacional, estimada em 3% conforme dados da pesquisa do Datafolha.
Os problemas relacionados ao tabagismo e ao consumo de álcool têm raízes profundas nas comunidades tradicionais e são discutidos há décadas. Em 2002, o assunto foi pauta na 1ª Conferência Internacional sobre Consumo de Álcool e Redução de Danos, em Recife. Mais recentemente, o podcast “Dois Mundos” destacou que esses problemas persistem entre diversas etnias da Amazônia.
Luciana Vasconcelos, diretora-adjunta de Doenças Crônicas da Vital Strategies, aponta a falta de informação em saúde como um dos principais obstáculos para a redução do tabagismo nessas comunidades. Muitas delas estão distantes de serviços de saúde, onde são realizadas ações de prevenção e educação. Vasconcelos explica que a falta de comunicação sobre os riscos associados ao tabagismo contribui para os altos índices de consumo. Quando as pessoas não têm acesso ao sistema de saúde, muitas vezes desconhecem os efeitos nocivos de seus hábitos.
A dificuldade de acesso aos serviços de saúde pode impactar diretamente o atendimento nessas comunidades. A proximidade com um sistema de saúde eficaz poderia ajudar na diminuição do consumo de tabaco.
Outro fator mencionado por Gabriel Cortês, especialista técnico da Vital Strategies, são as influências culturais. O tabaco está muitas vezes ligado a rituais e hábitos cotidianos. A imagem do seringueiro ou do pescador fumando é comum, o que torna essa prática socialmente aceita e difícil de combater.
Os dados da pesquisa também mostram que a prevalência do tabagismo é maior entre homens, com 12,8% de fumantes, em comparação a 4,6% entre as mulheres da região.
Essas informações reforçam a necessidade de mais ações voltadas para a saúde nessas comunidades e, especialmente, de campanhas informativas que ajudem a conscientizar sobre os danos do tabagismo e do consumo de álcool.
