Inflação Atinge Idosos com Força em Novembro

    A inflação percebida pelos brasileiros com 60 anos ou mais desacelerou em novembro de 2025, mas isso não representa um alívio significativo para essa faixa etária. Conforme dados do Índice de Preços ao Consumidor da Terceira Idade (IPC 60+), elaborado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, o índice subiu apenas 0,05% no último mês, comparado com um aumento de 0,20% no índice geral.

    Ainda assim, o custo de vida para os idosos está crescendo mais rapidamente do que para a média da população. De janeiro a novembro de 2025, o IPC 60+ registrou uma elevação de 3,85%, contrastando com 3,51% do índice geral. Em termos anuais, a diferença é ainda maior: 4,24% para os idosos contra 3,85% para o restante da população. Esse cenário revela a desigualdade na inflação vivenciada por essa faixa etária em comparação com as demais.

    Os dados mais alarmantes vêm do setor de saúde, que continua a ser o principal motor da inflação para os idosos. No acumulado de 12 meses, os preços em saúde subiram 8,41%. Guilherme Moreira, coordenador do IPC 60+, explica que isso se deve ao fato de que essa população frequentemente utiliza medicamentos, consultas e exames, tornando-a mais vulnerável a aumentos de preços.

    O comportamento dos preços em novembro não foi tão negativo graças à queda nos preços de alimentos como limão, tomate e leite longa vida, além da redução na conta de energia. No entanto, esse alívio é considerado temporário e insuficiente para compensar os aumentos acumulados ao longo do ano.

    Esses dados refletem a dura realidade de muitos idosos. O médico aposentado José Valdivia, de 82 anos, destaca que não é apenas o aumento de preços que pesa no seu orçamento, mas também a diminuição de sua renda após a aposentadoria. Ele estima que cerca de 40% de sua renda mensal vai para medicamentos e plano de saúde.

    Experiências semelhantes são relatadas por outros idosos. Gilda Gonçalves Passos, de 83 anos, e Maria Helena de Oliveira, de 81 anos, mencionam gastos altos com remédios e produtos básicos, como fraldas e absorventes. O medo do custo com saúde, especialmente com os altos preços de medicamentos, é uma preocupação recorrente entre essa população.

    Os convênios de saúde também são um grande peso financeiro. Marisa Garcia Lamarão, de 78 anos, afirma que metade de sua aposentadoria vai para o pagamento da mensalidade do convênio. Ela questiona, assim como muitos outros idosos, por que os valores não diminuem na terceira idade, quando as necessidades aumentam.

    Além das altas despesas, os idosos estão cada vez mais expostos a golpes financeiros. O Brasil registra um aumento no número de crimes cibernéticos voltados para essa faixa etária. Valdivia, por exemplo, foi vítima de um golpe via WhatsApp, onde criminosos se passaram por sua filha para solicitar um pagamento. Após registrar um boletim de ocorrência, ele conseguiu recuperar parte do dinheiro. Shirley Guimarães Geraissate, de 74 anos, também foi enganada da mesma forma.

    Gleisson Rubin, diretor do Instituto de Longevidade MAG, destaca que os idosos são os principais alvos desses golpes. Ele observa que a falta de familiaridade com tecnologia contribui para essa vulnerabilidade e enfatiza a necessidade de uma abordagem mais direcionada para esse público.

    As opiniões sobre os benefícios do governo voltados à população com mais de 60 anos também mostram insatisfação. Enquanto alguns consideram as iniciativas, como gratuidade no transporte público, positivas, a maioria sente que elas não são suficientes para enfrentar os desafios diários. Valdivia, por exemplo, afirma que as dificuldades de saúde pública e deslocamento tornam tais benefícios pouco práticos.

    Entre os idosos entrevistados, muitos admitiram não ter se planejado financeiramente para a aposentadoria. Aqueles que tentaram se organizar sentem que os preços elevados comprometem seu poder de compra. Gilda, por exemplo, declarou que, apesar de ter se planejado, os altos custos tornaram-se um fator limitante. Valdivia expressa arrependimento, destacando que, na juventude, talvez por falta de consciência, as despesas eram feitas sem pensar no futuro.

    Esses relatos e dados indicam um quadro preocupante para a população idosa, que enfrenta uma combinação de aumentos de preços, redução de renda e vulnerabilidades que exigem atenção urgente.

    Share.