A História de Georgia Tann e sua Ação no Sistema de Adoção

    Georgia Tann foi uma figura central na Tennessee Children’s Home Society, em Memphis, entre 1924 e 1950. Durante esses anos, ela conseguiu unir mais de 5.000 crianças a famílias adotivas, mas sua atuação estava longe de ser moralmente correta. Na verdade, muitos dos bebês que ela colocou em lares ao redor do país não eram órfãos; Georgia os sequestrava.

    Os Inícios de Georgia Tann

    Georgia Tann nasceu em 1891 no interior do Mississippi. Seu pai, um juiz, sonhava que ela se tornasse uma pianista profissional. Mesmo seguindo as aulas, Georgia não gostava de tocar. Ela se formou em música em 1913, mas seu verdadeiro interesse era o direito. Tann pediu a ajuda do pai para estudar, e conseguiu passar no exame da Ordem dos Advogados de Mississippi. No entanto, como era raro ver mulheres nessa profissão na época, ela decidiu seguir a carreira de assistente social.

    Depois de passar por algumas formações em Columbia University, conseguiu um emprego na Mississippi Children’s Home Society. Durante esse período, fez amizade com a housemother Ann Atwood, e aparentemente sua relação foi além da amizade. Tann adotou uma menina chamada June Ann nesse tempo.

    Em 1924, Georgia foi demitida devido a suas práticas inadequadas na colocação de crianças. Então, ela e Atwood mudaram-se para Memphis, onde Tann se tornou secretária executiva da Tennessee Children’s Home Society. Foi nesse lugar que ela iniciou um plano horrível que duraria décadas e causaria muitos danos a famílias.

    O Mercado Negro na Tennessee Children’s Home Society

    As leis do Tennessee permitiam que as agências de adoção cobrassem no máximo $7 por uma colocação dentro do estado. Contudo, Georgia Tann encontrou uma brecha: passou a cobrar muito mais por adoções fora do estado. Famílias ricas em lugares como Nova Iorque e Califórnia estavam dispostas a pagar até $5.000 por um bebê.

    Para ganhar esse dinheiro, Tann começou a criar cobranças fictícias relacionadas a verificações de antecedente e custos de viagem, além de gastos com papelada. Dessa maneira, ela ficava com mais de 80% do total em uma conta bancária secreta, operando sob um nome falso e sem declarar seus ganhos ao fisco.

    Georgia acreditava que crianças de famílias de baixa renda deveriam ser retiradas e entregues a “pessoas de melhor nível”. Para isso, ela usava métodos de pressão para convencer mães solteiras a entregarem seus bebês, alegando que as crianças teriam melhores chances em sua custódia. Como parte de suas táticas, Tann visitava lares de mães solteiras e instituições mentais, levando recém-nascidos assim que nasciam.

    Ela também implementou mentiras cruéis. Muitas vezes, dizia a mães nas maternidades que seus bebês precisavam de cuidados médicos urgentes e, depois de vender a criança, informava que o bebê havia morrido. Para aqueles que estavam passando por dificuldades, prometia cuidar dos filhos até que os pais conseguissem se reerguer, mas quando as famílias retornavam, Tann alegava não ter registro das crianças.

    Barbara Bisantz Raymond, que escreveu sobre a carreira de Tann, relatou que Georgia estava sempre em busca de novas vítimas. Ela se mantinha informada através de jornais e estava presente onde houvesse casos de mulheres em dificuldades. Seu lema incluía anúncios como “Mulheres Jovens em Dificuldade, Contatem a Senhorita Georgia Tann”.

    O Fim do Império Criminal de Georgia Tann

    Georgia Tann mostrou-se indiferente a quem colocava as crianças, contanto que recebesse seu pagamento. Algumas das crianças foram parar em lares abusivos, e muitas delas sequer sobreviveram durante sua estadia na Tennessee Children’s Home Society. Vários bebês morreram de desnutrição, já que Tann frequentemente ignorava recomendações médicas.

    Uma das crianças adotadas, Theresa Jennings, recordou que seus pais queriam conhecer um menino, mas acabaram levando-a para casa. Ao chegar, seu pai percebeu que ela estava com problemas de saúde. “Eu estava coberta de uma erupção e com o problema da língua presa. Fui deixada lá para morrer”, contou Jennings. Seus pais descobriram que ela tinha uma alergia a leite.

    Essas práticas horrorosas continuaram, até que, em 1950, o governo do Tennessee recebeu denúncias sobre a venda de bebês pela instituição. O governador Gordon Browning iniciou uma investigação que revelou que Tann supostamente arrecadou $1 milhão ao longo dos anos.

    Entretanto, antes que as acusações fossem formalmente apresentadas, Georgia Tann faleceu de câncer no útero em 15 de setembro de 1950, aos 59 anos. Embora não tenha enfrentado a justiça por suas ações, suas práticas desencadearam a necessidade de reformas nas leis de adoção, visando proteger crianças e famílias de futuras tragédias similares.

    Consequências e Memorial

    As ações de Georgia Tann provocaram a mudança nas legislações sobre adoção no Tennessee, mas o custo foi altíssimo, refletindo em vidas perdidas. Em Memphis, existe um memorial que homenageia algumas das crianças que morreram sob sua custódia. A inscrição no local lembra que, embora não conheçamos todos os nomes, o impacto de suas vidas e mortes ajudou a transformar o sistema de adoção em todo o país.

    Georgia Tann pode ter escapado da justiça em vida, mas a herança de seu horrível legado levou a reformas essenciais que visam garantir que nenhuma outra criança passe pelo que muitos sofreram durante seu tempo de poder. Essa história serve como um lembrete de como a avareza pode corromper até mesmo as instituições que deveriam proteger os vulneráveis e como a luta por justiça pode levar à mudança.

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