Resumo: Um estudo grande e controlado, que envolveu a comparação de infusões repetidas de cetamina com tratamento padrão, não mostrou vantagens adicionais no tratamento da depressão maior. Não foram encontradas diferenças significativas nos sintomas de depressão, na cognição ou na qualidade de vida entre os grupos.
Os pesquisadores alertam que estudos anteriores podem ter exagerado a eficácia da cetamina. Os resultados destacam a necessidade de um planejamento rigoroso em pesquisas antes de usar a cetamina mais amplamente para tratar a depressão.
Fatos Principais:
- Sem Benefício Adicional: A cetamina não teve melhores resultados que o midazolam na redução dos sintomas de depressão ou na melhora da qualidade de vida.
- Preocupação com o Efeito Placebo: Muitos participantes adivinharam qual tratamento estavam recebendo, o que pode ter aumentado a percepção dos efeitos.
- Implicações Clínicas: Os resultados exigem uma recalibração das expectativas sobre a cetamina e uma avaliação cuidadosa antes de sua adoção em larga escala.
O ensaio clínico KARMA-Dep 2 não encontrou benefícios adicionais da cetamina em comparação com o tratamento padrão para pessoas internadas por depressão.
O estudo foi realizado por um grupo de pesquisa de centros de saúde na Irlanda e liderado por Declan McLoughlin, professor de psiquiatria. A depressão é uma das principais causas de incapacidade no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde. Em 2023, 15.631 adultos foram internados em serviços psiquiátricos na Irlanda, com distúrbios depressivos representando cerca de 24% das internações.
Estudos indicam que cerca de 30% das pessoas com depressão não respondem bem a antidepressivos tradicionais, que agem em neurotransmissores como serotonina e dopamina. Por isso, novas opções de tratamento são necessárias.
Um desses tratamentos é a cetamina, um anestésico dissociativo que, em doses baixas, é aplicado intravenosamente para depressão. Acredita-se que a cetamina atua através do glutamato, um mensageiro químico no cérebro. Infusões únicas têm demonstrado efeitos antidepressivos rápidos, mas que desaparecem rapidamente. Apesar disso, a cetamina vem sendo usada off-label para depressão, embora as evidências a favor desse uso sejam limitadas.
O ensaio KARMA-Dep 2 foi projetado para testar se infusões repetidas de cetamina têm efeitos mais duradouros. O estudo, financiado pelo Health Research Board, usou um grupo controle com midazolam para manter os efeitos dissociativos da cetamina sob controle.
No ensaio, os participantes foram divididos em dois grupos, um recebeu até oito infusões de cetamina e o outro, midazolam, em um período de quatro semanas, além de receber cuidados padrão. Os resultados mostraram que não houve diferença significativa na redução dos sintomas de depressão entre os dois grupos.
Os resultados também mostraram que não havia distinções marcantes entre os grupos na melhoria da qualidade de vida, custos de saúde ou desempenho cognitivo. Apesar dos esforços para manter os participantes e os pesquisadores sem saber qual tratamento estava sendo administrado, a maioria adivinhou corretamente. Isso pode ter impactado os resultados, pois as pessoas podem ter experimentado um efeito placebo.
Declan McLoughlin comentou que a ideia inicial era que infusões repetidas de cetamina melhorariam os resultados da depressão. Porém, isso não aconteceu. O uso de cetamina não trouxe benefícios adicionais nos cuidados padrão, o que sugere que as expectativas sobre sua eficácia antidepressiva devem ser ajustadas.
A Dra. Ana Jelovac, uma das autoras do estudo, ressaltou a importância de manter a cegueira em ensaios clínicos, especialmente em terapias onde isso é difícil. Problemas na cegueira podem levar a efeitos placebo aumentados e resultados distorcidos nos ensaios.
Perguntas e Respostas:
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Qual era o objetivo desse estudo sobre cetamina e depressão?
O estudo buscava descobrir se infusões repetidas de cetamina melhorariam os resultados na depressão quando combinadas com tratamento padrão. -
O que os pesquisadores descobriram?
Não houve diferença significativa entre os pacientes que receberam cetamina e aqueles que receberam midazolam em medidas de depressão e qualidade de vida. -
Por que isso é importante?
Apesar do aumento do uso off-label de cetamina para depressão, este estudo rigoroso sugere que seus benefícios podem ter sido superestimados, alertando para um uso mais cauteloso. -
O que pode explicar os resultados?
Muitos participantes acertaram o tratamento que estavam recebendo, o que pode ter intensificado os efeitos placebo e influenciado as mudanças de humor percebidas.
Considerações Finais:
Os resultados indicam que as infusões de cetamina, quando usadas como tratamento complementar em pacientes internados, não são mais eficazes que o midazolam, que é um sedativo. Isso levanta a necessidade de uma abordagem mais cuidadosa na utilização da cetamina no tratamento de depressão.
A pesquisa também destaca a importância de conduzir ensaios clínicos rigorosos que considerem as expectativas dos pacientes e os efeitos placebo. É essencial que futuros estudos levem em conta essas variáveis para fornecer uma compreensão mais clara da eficácia das terapias para depressão.
As conclusões gerais do estudo sugerem que, apesar de promissor, o uso de cetamina como tratamento para a depressão deve ser avaliado com cautela e mais pesquisas são necessárias para entender seu verdadeiro potencial.