Maria Bethânia: Uma Jornada de 60 Anos de Carreira
Em 2025, Maria Bethânia celebra seis décadas de carreira musical. A trajetória da artista começou em 13 de fevereiro de 1965, com sua estreia no espetáculo “Opinião”, no Rio de Janeiro. No entanto, para alguns, como o jornalista Paulo Henrique de Moura, a história de Bethânia começa antes, em 1964, em Salvador. Nessa época, ela se apresentou em shows como “Nós, por exemplo”, “Nova bossa velha, velha bossa nova” e “Mora na filosofia”.
Os primeiros anos da cantora, apesar de menos conhecidos, foram fundamentais para entender sua evolução artística. O jornalista argumenta que alguns destes espetáculos, como “Arena canta Bahia” e “Tempo de guerra”, mesmo sendo considerados fracassos, foram importantes no contexto do sucesso que se seguiu com “Opinião”. Paulo Henrique está lançando um livro intitulado “Maria Bethânia, primeiros anos — Da cena cultural baiana ao teatro musical brasileiro”, que resulta de sua dissertação de mestrado defendida em 2024.
Ele expressa sua paixão pela cantora e ressalta a falta de conhecimento sobre os primeiros passos de sua carreira. Segundo ele, muitos se concentram apenas no sucesso de “Opinião”, esquecendo como Nara Leão a descobriu nos espetáculos que precederam essa fase.
Para compor sua obra, Paulo Henrique pesquisou notícias da época, acessou o acervo do Teatro Vila Velha, onde os primeiros shows de Bethânia foram realizados, e entrevistou pessoas próximas à artista, inclusive a própria cantora. Ele busca reconstituir o impacto que a jovem de apenas 18 anos causou na cena musical desde o início.
Carlos Coqueijo, crítico e amigo de João Gilberto, elogiou Bethânia após assistir ao espetáculo “Nós, por exemplo”, destacando seu talento excepcional. O espetáculo, que estreou em 22 de agosto de 1964, fez parte de um momento criativo em Salvador, onde artistas se reuniam para trocar ideias e experiências.
Paulo Henrique menciona que há gravações de Djalma Corrêa, um músico da época, que podem oferecer uma visão do que foram esses shows. Essas gravações, que nunca foram apresentadas publicamente, permanecem com a filha de Djalma.
O espetáculo “Nós, por exemplo” foi muito bem recebido, assim como “Nova bossa velha, velha bossa nova”. Nara Leão, durante um show em Salvador, ouviu uma fita dessa segunda apresentação e recomendou Bethânia como sua sucessora.
Antes de se mudar para o Rio de Janeiro, Bethânia se apresentou em “Mora na filosofia”, onde trouxe canções do repertório de Nara, além de clássicos da era de ouro do rádio. O cenário do show refletia a realidade social da época, embora os espetáculos não fossem abertamente políticos, mesmo com o contexto de golpe militar no país.
A artista incorporou elementos de crítica social em sua performance, especialmente em “Opinião”, onde cantou “Carcará”, uma canção de forte simbolismo. Paulo Henrique destaca que embora Bethânia nunca tenha se apresentado como ativista política, sua presença e escolhas artísticas carregavam um significado político, representando a classe trabalhadora.
Bethânia influenciou o repertório de shows como “Arena canta Bahia” e “Tempo de guerra”, embora o diretor Augusto Boal tentasse controlar os roteiros. A artista, no entanto, buscava liberdade criativa e frequentemente enfrentava pressão para cantar suas músicas mais conhecidas.
Após um tempo fora do centro do palco, ela retornou em 1967, decidindo cantar apenas o que desejasse. Segundo Paulo Henrique, Bethânia era consciente do contexto político da época e, apesar de não expressar isso frequentemente, seu envolvimento com questões sociais era evidente.
Durante um período de monitoração por parte das autoridades, Bethânia contou que teve de depor na polícia devido a um livro que deveria ser uma homenagem, mas acabou gerando problemas. O livro retrata sua trajetória até voltar para o Rio, onde fez uma série de shows, incluindo um que se transformou em disco.
Paulo Henrique lançará seu livro no Rio de Janeiro em 17 de janeiro, às 15h, na loja Tropicália Discos, em Botafogo.
‘Maria Bethânia, primeiros anos’
- Autor: Paulo Henrique de Moura
- Editora: Letra e Voz
- Páginas: 208
- Preço: R$ 68
