O Rio Grande do Sul está prestes a se tornar um centro importante para a indústria aeronáutica. A Aeromot, uma empresa brasileira do setor, anunciou um grande projeto em Guaíba, perto de Porto Alegre, que promete mudar o cenário da aviação no Brasil.
AeroCITI: O Novo Centro de Aviação
O novo complexo, chamado AeroCITI (Aerocentro Integrado de Tecnologia e Inovação), ocupará 540 hectares e receberá um investimento total de R$ 3 bilhões. A meta é produzir 55 aeronaves por ano até 2037. Além da fábrica, o local contará com hangares, um centro de pesquisa, áreas de lazer e até um Museu do Avião a céu aberto.
Um dos pontos mais interessantes do projeto é a criação do primeiro avião de transporte movido a etanol do mundo, uma iniciativa inovadora que visa diminuir as emissões de carbono na aviação.
Um Polo de Inovação em Guaíba
Com essa iniciativa, a Aeromot quer transformar Guaíba na “metrópole do avião” no Brasil. A infraestrutura permitirá que vários hangares sejam utilizados por diferentes empresas, muitas delas com apoio financeiro das parceiras. Esse espaço ainda poderá receber pousos comerciais em casos de emergência, complementando o Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre.
A construção do AeroCITI contará com a colaboração do governo estadual, que já aprovou uma lei para doar parte do terreno e oferecer incentivos fiscais. Assim, o projeto não será apenas uma fábrica, mas um centro de inovação, atraindo também empresas e instituições de pesquisa.
Guilherme Cunha, o CEO da Aeromot, ressaltou que o AeroCITI não só atenderá o Brasil, mas também países do Mercosul. Segundo ele, a Aeromot está buscando desenvolver tecnologia na América do Sul para dar suporte a todos esses países.
Produção Nacional e Otimização de Prazos
O primeiro modelo a ser fabricado na nova instalação será o Diamond DA62, conhecido como o “SUV dos ares”, que comporta doze passageiros. Este modelo é fabricado pela Diamond Aircraft, uma empresa internacional, e a Aeromot já trouxe mais de 105 unidades para o Brasil desde 2016.
A conseguir produzir localmente, o tempo de espera para aquisição da aeronave deverá cair de 32 meses para cerca de quatorze. A montagem inicial está prevista para começar em junho de 2027, ainda com componentes importados. O plano é fabricar oito unidades no primeiro ano e expandir essa produção gradualmente até ter a linha totalmente instalada até 2037.
Cunha acredita que essa mudança pode provocar um aumento nos financiamentos nacionais, facilitando a compra. “Atualmente, 95% das vendas são feitas à vista, e a ideia é transformar isso em um produto brasileiro, com financiamentos locais”, destacou.
O Desafio do Avião a Etanol
Enquanto trabalha no DA62, a Aeromot também se dedica a um projeto inovador: o primeiro avião de transporte movido a etanol. Este modelo bimotor está em desenvolvimento há mais de um ano e, hoje, o etanol é usado apenas em aeronaves agrícolas. A Aeromot tem a ambição de ampliar seu uso para o transporte de passageiros nos próximos cinco anos.
Cunha vê isso como uma estratégia essencial. “A aviação vai passar por uma transformação dramática nas próximas décadas e a descarbonização é necessária. Precisamos nos preparar para isso”, disse.
Colaboração Com Universidades e Centros de Pesquisa
A Aeromot está formando parcerias com universidades e centros de pesquisa para utilizar o espaço do AeroCITI. Entre os parceiros estão a UFMG, o Instituto BI0S da Unicamp, a Ulbra, a UFRGS, o Parque Tecnológico de São José dos Campos e a PUC-RS. Essas colaborações visam fortalecer o desenvolvimento de soluções sustentáveis e inovadoras, promovendo uma integração entre academia e indústria.
Além disso, o complexo terá um Museu do Avião com 29 mil m², espaço para caminhadas e áreas de recreação, reforçando o caráter educacional do projeto.
Experiência e Tradição no Setor Aéreo
Fundada há 63 anos, a Aeromot tem uma longa trajetória na aviação. Recentemente, a empresa focou em distribuições e adaptações de aeronaves, especialmente para missões de segurança pública, saúde e vigilância aérea.
Durante a Copa do Mundo de 2014, a empresa foi fundamental para o sistema de segurança e logística aérea em todo o Brasil. Antes disso, entre 1985 e 2005, a Aeromot fabricou dois modelos: o Guri e o Ximango. Ambos têm capacidade para duas pessoas e foram adotados por diversas forças aéreas internacionais, com mais de 105 unidades vendidas de cada modelo.
Atualmente, a produção da Aeromot ainda é pequena em comparação com outras empresas do Brasil. Por exemplo, a Flyer Indústria Aeronáutica produziu 2.305 aeronaves em quatro décadas, enquanto a Embraer, a maior fabricante nacional, apresenta números impressionantes de produção anual.
O Futuro do AeroCITI
Com o AeroCITI, a Aeromot quer recolocar o Brasil em um mapa importante no setor da aviação executiva, gerando empregos e atraindo novas empresas. O projeto une produção, pesquisa e sustentabilidade, destacando-se pela ousadia de desenvolver um avião movido a etanol, o que pode ser um divisor de águas para a aviação global.
O CEO Guilherme Cunha resume a visão da empresa: “É um projeto de longa duração, mas com impacto além da indústria. Queremos preparar o país para o futuro da mobilidade aérea.”
