Jabal Maragha: A Triste História de Vandalismo no Sudão
Nos desertos orientais do Saara, encontram-se as ruínas antigas de Jabal Maragha, um sítio que faz parte do Reino Núbio do Kush. Infelizmente, esse local de 2.000 anos foi recentemente devastado por um grupo de caçadores de tesouros ilegais em busca de ouro.
O Ataque ao Patrimônio Histórico
De acordo com informações de autoridades locais, os caçadores usaram máquinas pesadas para cavar um buraco de 17 metros de profundidade e 20 metros de comprimento. O resultado foi a destruição completa do local, que se tornou irreconhecível. A equipe do Departamento de Antiguidades e Museus do Sudão ficou chocada com a situação.
O arqueólogo Habab Idriss Ahmed, que fez escavações nesse local pela primeira vez em 1999, ficou surpreso. Ele relembra que, na época, Jabal Maragha era um lugar tranquilo e preservado. A destruição atual é alarmante e desoladora.
Por Que Jabal Maragha Atraí Caçadores de Tesouros?
Hatem al-Nour, diretor de Antiguidades do Sudão, explica que os caçadores de tesouros foram atraídos por camadas de areia metálica e pirita – conhecida como “ouro dos tolos” – que ativaram seus detectores de metal. Esses fatores tornaram o sítio um alvo fácil para aqueles que buscam riqueza rápida e ilegal.
A Importância do Reino do Kush
O Reino de Kush dominou as terras ao sul do Egito entre 2500 a.C. e 300 d.C. Durante parte desse período, Jabal Maragha funcionou como um ponto de controle estratégico. A capital do reino, Meroé, era um centro cultural e comercial próspero por séculos.
Embora o Reino do Kush tenha sido uma colônia do Egito, manteve a autonomia devido suas ricas minas de ferro e ouro. Enquanto o Egito enfrentava invasões de diversas civilizações, Kush permaneceu protegido. No século VIII a.C., o rei núbio Piye conquistou o Egito, estabelecendo a 25ª dinastia egípcia.
A Riqueza de Pumas do Kush
O Reino do Kush é significativo não apenas por sua história, mas também por suas contribuições arquitetônicas. Os kushitas chegaram a construir mais pirâmides do que os egípcios, com mais de 200 pirâmides antigas ainda existindo no Sudão. Embora menores e menos conhecidas, essas estruturas têm características distintas, sendo mais íngremes e não se limitando a reis, como as egípcias.
A Destruição em Massa
Infelizmente, Jabal Maragha não é um caso isolado. Estima-se que cerca de 105 de 1.005 importantes sítios arqueológicos no Sudão já tenham sido destruídos devido à mineração ilegal. Hatem al-Nour afirma que essas ações representam uma grande perda, pois esses locais contêm valiosas informações sobre a história sudanesa.
A Falta de Proteção e Corrupção
Um dos principais desafios para a proteção dos sítios arqueológicos é a falta de recursos. Além disso, a corrupção entre autoridades e patrocinadores contribui para a situação. Muitas vezes, aqueles que investem em caça ao tesouro agem sem punição. Há relatos de que, frequentemente, os caçadores de tesouros detidos são liberados rapidamente, permitindo que voltem a atuar sem consequências.
Em Jabal Maragha, as autoridades não conseguiram processar os responsáveis. Essa falta de ação permitiu que os vândalos recuperassem seus equipamentos e deixassem o local sem problemas.
A Necessidade de Ação
Especialistas, como Mahmoud al-Tayeb, ex-membro do departamento de antiguidades, enfatizam que a legislação existe. No entanto, é preciso agir. A proteção dos sítios arqueológicos básicos requer uma força-tarefa adequada, já que atualmente há apenas um policial para cada 30 locais, e muitos enfrentam limitações em comunicação e transporte.
O Preço da Mineração Ilegal
A degradação desses locais não é apenas um problema econômico, mas também um ataque à cultura e à história do Sudão. Os caçadores de tesouros, motivados por lucro rápido, desconsideram o valor dos sítios que estão destruindo. A perda de parte significativa da história sudanesa pode ser irreversível.
Conclusão
A situação em Jabal Maragha reflete um padrão alarmante que continua a se repetir em todo o Sudão. A combinação de falta de proteção, corrupção e a busca desenfreada por ouro prejudica patrimônios históricos que pertencem a todos. É essencial que medidas sejam tomadas para preservar esses locais e garantir que a história do Sudão seja respeitada e protegida para as futuras gerações.
