Descoberta do “Genji Monogatari”: Um Capítulo Perdido

    Os amantes da literatura podem conhecer “Genji Monogatari”, uma história japonesa antiga considerada o primeiro romance do mundo. No entanto, o manuscrito original, escrito por Murasaki Shikibu no século XI, não foi encontrado até hoje.

    Esse texto icônico foi preservado por Fujiwara no Teika, que compilou uma versão em 54 capítulos, conhecida como “Ao-byoshi-bon” (versão com capa azul). Apenas quatro capítulos dessa edição foram encontrados até o momento—até que uma descoberta surpreendente ocorreu na casa de um japones.

    Recentemente, estudiosos confirmaram a autenticidade de um novo capítulo desse manuscrito, intitulado “Wakamurasaki”. Este capítulo retrata o primeiro encontro entre o Príncipe Genji, o protagonista, e sua futura esposa, Murasaki-no-ue, uma figura essencial na narrativa.

    O manuscrito foi encontrado em um baú pertencente a Motofuyu Okochi, de 72 anos, um descendente da nobreza do antigo domínio feudal Mikawa-Yoshida, hoje Toyohashi, na Prefectura de Aichi. Registros da família indicam que esse manuscrito está em sua posse desde 1743, quando foi passado a eles por outra família.

    A pedido de Okochi, a Fundação Cultural Reizeike Shiguretei Bunko examinou a autenticidade do novo texto. Após análise, a fundação anunciou a confirmação de que o manuscrito é de fato genuíno.

    Os especialistas notaram algumas diferenças gramaticais entre o novo capítulo e as partes mais antigas escritas por Teika. No entanto, existem muitos indícios que corroboram a autenticidade do documento. Por exemplo, a capa do manuscrito é azul, assim como os outros capítulos de Teika, e a caligrafia é a mesma.

    O capítulo recentemente descoberto provavelmente será registrado como patrimônio cultural do Japão, assim como os outros quatro textos de Teika: “Hanachirusato”, “Miyuki”, “Kashiwagi” e “Sawarabi”.

    A professora Junko Yamamoto, da Universidade de Ciências Avançadas de Kyoto, especialista na literatura japonesa do período Heian, enfatizou que essa descoberta é muito relevante para pesquisadores. O acesso a esse material pode fornecer novos insights sobre a obra.

    Escrito há mil anos, “Genji Monogatari” retrata a vida complicada de Hikaru Genji, um príncipe japonês de 18 anos. A história mostra como o príncipe tenta equilibrar sua vida pessoal e suas obrigações na corte. Assim, os leitores têm uma visão única da vida dos nobres japoneses daquela época.

    A tradução mais recente da obra, feita por Dennis Washburn, foi publicada em 2015 e possui mais de 1.300 páginas. Melissa McCormick, professora de arte e cultura japonesa na Universidade de Harvard, ressaltou a importância desse trabalho como uma “obra monumental de literatura”.

    Murasaki Shikibu escrevia em um contexto literário que, na época, era considerado menosprezado. A ficção era vista de forma negativa, mas a autora produziu uma obra tão impressionante que se tornou impossível ignorá-la.

    “Genji Monogatari” se destaca não só por sua longevidade como uma obra apreciada, mas também pela forma como aborda os complexos relacionamentos de poder e as questões de gênero no Japão do século XI. Naquela época, os homens da corte seduziam mulheres por meio de poemas em papéis perfumados, entregues por intermediários adequados.

    Hoje, muitos aspectos da sociedade mudaram consideravelmente em comparação com mil anos atrás, mas a relevância do “Genji Monogatari” permanece intacta. O romance continua a ser estudado e admirado por sua profundidade e complexidade.

    Além de ser uma fascinante leitura, a obra de Murasaki Shikibu oferece uma visão histórica rica e detalhada, refletindo a cultura e as normas sociais do Japão na era Heian. A descoberta do capítulo “Wakamurasaki” apenas reforça a importância desse clássico da literatura.

    Historiadores e pesquisadores têm muito a explorar agora que mais um fragmento deste romance icônico foi recuperado. É um grande passo para a compreensão das dinâmicas sociais e das relações humanas que moldaram a literatura japonesa.

    Esses novos achados não apenas enriquecem o nosso conhecimento sobre o passado, mas também mostram como a literatura pode atravessar séculos, mantendo-se relevante e impactante. A redescoberta de capítulos como “Wakamurasaki” permite que mais pessoas se conectem com a rica narrativa de Murasaki Shikibu e com o legado do “Genji Monogatari”.

    Portanto, este recente achado se torna mais do que apenas uma curiosidade acadêmica. Ele se transforma em um convite para que novas gerações de leitores explorem e se apaixonem por uma das mais significativas obras da literatura mundial. A arte da narrativa, tão bem empregada por Shikibu, continua a ecoar através do tempo, provando que as experiências humanas, mesmo em contextos diferentes, permanecem universais e eternas.

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