Injeção Para Tratamento de Crises de Asma e DPOC: Uma Nova Esperança
Uma injeção administrada durante crises de asma e DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica) mostrou-se mais eficaz do que os tradicionais comprimidos de esteroides, reduzindo em 30% a necessidade de tratamentos adicionais.
Os cientistas afirmam que essas descobertas, divulgadas hoje, podem mudar a vida de milhões de pessoas com asma e DPOC ao redor do mundo. As crises de asma e as exacerbações da DPOC podem ser graves e até fatais. No Reino Unido, diariamente, quatro pessoas morrem de asma e 85 de DPOC. A asma é muito comum, com um ataque acontecendo a cada 10 segundos por lá. Esses problemas respiratórios custam ao NHS cerca de £5,9 bilhões por ano.
A injeção trata um tipo de crise chamado “exacerbações eosinofílicas”, que traz sintomas como falta de ar, tosse e aperto no peito, resultantes de inflamação por altos níveis de eosinófilos (um tipo de glóbulo branco). Esse tipo de exacerbação representa até 30% das crises de DPOC e quase 50% das crises de asma. Com o tempo, essas crises podem se tornar mais frequentes, causando danos irreversíveis nos pulmões.
O tratamento dessas crises de asma não mudou praticamente nada em mais de cinquenta anos. Os esteroides, como a prednisona, são a principal forma de medicação. Embora reduzam a inflamação nos pulmões, os esteroides têm efeitos colaterais sérios, como diabetes e osteoporose. Além disso, muitos pacientes não respondem ao tratamento e precisam de novas doses de esteroides, acabam internados ou até morrem em até 90 dias.
Os resultados do estudo clínico ABRA, realizado por cientistas do King’s College London e apoiado pela Universidade de Oxford, mostram que um medicamento já existente pode ser usado de forma diferente em situações de emergência. O estudo foi feito na Oxford University Hospitals NHS Foundation Trust e no Guy’s and St Thomas’ NHS Foundation Trust.
O medicamento em questão, chamado benralizumab, é um anticorpo monoclonal que foca em eosinófilos para reduzir a inflamação nos pulmões. Ele é atualmente utilizado para tratar asma grave, e o estudo ABRA descobriu que uma única dose pode ser mais eficiente quando injetada durante uma crise, se comparada a comprimidos de esteroides.
Os pesquisadores dividiram pessoas com alto risco de crises de asma ou DPOC em três grupos. Um grupo recebeu a injeção de benralizumab e comprimidos de placebo; outro recebeu o tratamento padrão (30mg de prednisona por cinco dias) e uma injeção de placebo; por último, o terceiro grupo recebeu tanto a injeção de benralizumab quanto o tratamento padrão. O estudo foi duplo cego, ou seja, nem os participantes nem os pesquisadores sabiam qual tratamento estava sendo administrado a cada grupo.
Após 28 dias, os sintomas respiratórios, como tosse, chiado e falta de ar, foram melhorados no grupo que recebeu benralizumab. Depois de 90 dias, o grupo do benralizumab teve quatro vezes menos pessoas que não responderam ao tratamento, em comparação ao grupo que recebeu o tratamento padrão.
O tratamento com a injeção de benralizumab levou mais tempo para falhar, resultando em menos consultas médicas e internações. Além disso, houve uma melhora na qualidade de vida das pessoas com asma e DPOC.
A professora Mona Bafadhel, líder do estudo, disse que essa descoberta pode ser revolucionária para pacientes com asma e DPOC. Os tratamentos para crises dessas doenças não mudaram em cinco décadas, apesar de serem responsáveis por 3,8 milhões de mortes por ano no mundo.
Benralizumab já é um remédio seguro e eficiente para controlar asma grave. No estudo, o medicamento foi utilizado de maneira inovadora, mostrando-se mais eficaz que os comprimidos de esteroides, que atualmente são a única opção de tratamento. A grande novidade no estudo ABRA foi identificar que terapia direcionada funciona melhor nas crises de asma e DPOC. Em vez de oferecer o mesmo tratamento para todos, focamos em pacientes de alto risco, usando o tratamento adequado para cada caso.
A injeção de benralizumab foi dada por profissionais de saúde durante o estudo, mas pode ser aplicada também em casa, em consultórios médicos ou em pronto-socorros. O remédio foi considerado seguro e teve resultados semelhantes de segurança a muitos estudos anteriores.
A professora Bafadhel espera que esses estudos importantes mudem a forma como as crises de asma e DPOC são tratadas, melhorando a vida de mais de um bilhão de pessoas que vivem com essas condições no mundo.
Dr. Sanjay Ramakrishnan, do University of Western Australia e autor principal do estudo ABRA, ressalta que a pesquisa demonstra grande potencial para o tratamento de asma e DPOC. A DPOC é a terceira maior causa de morte no mundo, e os tratamentos estão parados no século 20. Precisamos oferecer opções que salvem vidas antes que seja tarde.
O estudo ABRA só foi possível através da colaboração entre o NHS e universidades, mostrando como essa relação pode inovar a saúde e melhorar vidas.
Geoffrey Pointing, de 77 anos, que participou do estudo, compartilhou: “É difícil explicar como você se sente durante uma crise. Você mal consegue respirar. Qualquer coisa que tire essa dor e devolva a vida normal é tudo que eu desejo. E com as injeções, foi fantástico. Não tive efeitos colaterais como com os comprimidos. Com os esteroides, eu mal conseguia dormir na primeira noite, mas no primeiro dia do estudo, consegui dormir e segui minha vida normalmente. Sou grato por ter participado e por todos envolvidos na pesquisa ABRA, que estão fazendo o possível para melhorar minha vida.”
A Dr. Samantha Walker, Diretora de Pesquisa e Inovação da Asthma + Lung UK, afirmou que a descoberta de uma alternativa para os comprimidos de esteroides é animadora para pessoas com doenças pulmonares. Contudo, é lamentável que essa seja a primeira nova opção de tratamento em 50 anos, o que revela a necessidade urgente de investimentos em pesquisa sobre saúde pulmonar.
A cada quatro minutos, alguém morre no Reino Unido devido a uma condição pulmonar. Muitas pessoas vivem com o medo de não conseguir respirar. Estamos lutando por mais pesquisas que mudem vidas e ofereçam melhores tratamentos para todos que enfrentam problemas respiratórios. Nosso objetivo é um mundo em que todos tenham pulmões saudáveis, e isso só será possível com apoio.
Essa pesquisa contou com a colaboração da AstraZeneca UK Limited.
