Sofrimento, Pecado e a Resposta de Fé
Às vezes, o sofrimento que enfrentamos é resultado direto de nossos próprios erros (1Co 11.30-32). Contudo, há momentos em que a dor que sentimos não é consequência de nenhum pecado específico (Jo 9.3; 2Co 12.8-9). Como, então, devemos lidar com esse sofrimento? A resposta pode ser dividir a abordagem em duas: (1) ter uma perseverança paciente ou (2) buscar um arrependimento imediato.
Ambas as situações são verdadeiras. Deus nos envia sofrimentos, em parte, para que possamos avaliar nossa vida (Hb 12.6) e, ao mesmo tempo, para que possamos glorificá-lo enquanto enfrentamos a dor com fé e paciência (Jo 9.3). A grande questão é: como sabemos por que estamos sofrendo? “Deus pode nos mostrar o motivo; ele pode, mas também pode optar por não revelar.” Muitas vezes, essas categorias se misturam e se sobrepõem. Sendo assim, a melhor maneira de enfrentarmos o sofrimento é com uma autoavaliação honesta e uma esperança paciente.
O apóstolo Tiago nos convida a enfrentar as provas da vida com “toda alegria”, para que elas possam nos ajudar a construir firmeza (Tg 1.2-4). Ele não faz distinção sobre se essas provas são resultados de pecados específicos. O que importa, segundo Tiago, é que, em todas as provações, nossa fé é testada. O objetivo é nos levar a reconhecer que Deus é confiável, sábio, bondoso e suficiente para lidarmos com nossas dificuldades. Portanto, independentemente da origem do sofrimento, nossa atitude deve ser a mesma: “Que cada provação trabalhe em nós, matando o pecado, promovendo a fé, a paciência e o amor.”
Se já sabemos que temos pecados, devemos nos arrepender deles. Se não temos certeza de quais pecados podem estar nos afetando, podemos pedir a Deus que nos ajude a identificar falhas ocultas e nos conceda mais fé e paciência (Sl 19.12; 139.23-24).
Um bom exemplo disso é a história de Jó. Ele era um homem irrepreensível (Jó 1.1), mas acabou passando por grandes sofrimentos. Esses sofrimentos revelaram, nele, aspectos de sua própria pecaminosidade, dos quais ele se arrependeu posteriormente (Jó 42.5-6). Portanto, quer o sofrimento seja uma punição por um pecado específico ou uma oportunidade para glorificar a Deus, sempre haverão resquícios de pecaminosidade em nós que precisam ser superados.
Assim, quando a dor chegar, avalie as situações e suporte com paciência. Não ignore nem tema o sofrimento como um símbolo da condenação de Deus, pois essas respostas são inadequadas (Rm 8.16-17).
Ao refletirmos sobre o sofrimento na vida de Jó, é fundamental reconhecermos nosso próprio pecado. Todos estamos, de alguma forma, sujeitos ao juízo de Deus como “filhos da ira” (Ef 2.3). Dessa forma, cada momento em que não estamos sofrendo é uma demonstração de graça que não merecemos. O simples fato de respirarmos é um presente que nos é concedido, apesar de tudo.
Essa compreensão nos leva a ter certeza de que “Deus não comete injustiça em relação a ninguém. Em toda a Terra, recebemos tratamento melhor do que merecemos.” Quando refletimos sobre a justiça de Deus, questionamos tragédias globais e nos lembramos continuamente do horror do pecado contra Ele. Entretanto, a esperança é encontrada na redenção que vai além do nosso sofrimento nesta vida.
Cristãos enfrentam dores (1Ts 3.3; 2Ts 1.5), mas o fazem com a certeza de que suas dificuldades estão “nas mãos de um Pai que sabe, pode e é bom.” Não estão sob o controle de Satanás, do destino, ou de um deus que se diverte com nossas lutas. Cada dor é permitida e administrada por um Pai amoroso, visando nosso benefício final (Rm 8.28). Assim, encontramos consolo no fato de que (1) Deus designa nossa dor, (2) para nosso bem final e (3) para promover Seus planos sábios. Durante essas dificuldades, Ele nos mantém firmes.
Quando falamos sobre sofrimento, o conceito de redenção é essencial. É importante não confundir juízo com disciplina. Há uma grande diferença entre esses dois. (1) Deus exerce juízo sobre os Seus inimigos — a “miséria” que Ele impõe é somente para manifestar Sua justiça, sem qualquer finalidade redentora (Ap 16.5-6). Esse juízo será totalmente evidente em seu julgamento futuro (Ap 19.1-3). (2) Por outro lado, Ele disciplina Seus filhos — uma distinção clara. A disciplina não é um tipo de retribuição, mas sim uma forma de corrigir e aperfeiçoar aqueles que Ele ama, mesmo que isso envolva descontentamento (Hb 12.5-11).
É importante reconhecer que muitas coisas dolorosas que enfrentamos são consequências dos nossos próprios erros. Alguns deles ocorreram antes de nos tornarmos cristãos, enquanto outros surgiram após essa decisão. Às vezes, nosso pecado pode até resultar em morte física (1Co 11.30). Mas mesmo em situações extremas, a disciplina divina evita consequências ainda mais severas (1Co 11.31-32). Essa é uma demonstração clara do juízo corretivo de Deus. O sofrimento pode, em muitos casos, proteger os filhos de um destino muito pior.
Assim, há uma grande diferença entre a justiça retributiva de Deus e a disciplina purificadora que vivenciamos na dor. O que distingue essas duas formas de sofrimento não é a origem da dor, mas o propósito que Deus tem por trás dela. O sofrimento, quando entendido sob a luz da disciplina divina, revela sua intenção redentora e restauradora.
Portanto, ao passarmos por situações difíceis, que possamos olhar para nosso interior, avaliar nossas ações, e, ao mesmo tempo, manter a esperança em um Deus que nos ama e deseja nos aperfeiçoar. Encarar nossos desafios dessa forma nos ajudará a crescer. Sejamos pacientes e confiantes em meio aos sofrimentos.
