Durante uma viagem à Croácia, tivemos um dia livre entre várias reuniões. Enquanto a maioria do grupo optou por visitar parques nacionais ou fazendas de oliveiras para degustar o famoso azeite local, decidi sugerir uma aventura histórica a Mostar, na Bósnia, uma cidade charmosa do século XV.

    Partimos em direção à Bósnia, com as montanhas e curvas da estrada nos proporcionando vistas impressionantes do mar Adriático. No entanto, dirigir a van em meio a essas condições não seria fácil. Fiquei aliviado quando meu amigo Derek se ofereceu para dirigir. Ele estava nervoso e, enquanto dirigia, comentou várias vezes sobre suas mãos suando no volante.

    Na nossa primeira parada na fronteira entre a Croácia e a Bósnia, um policial nos informou que não poderíamos passar. O clima ficou tenso, pois não víamos outros carros nas proximidades. Estávamos dependendo do Waze e do Google Maps, mas precisaríamos encontrar outro caminho. Acontece que não havia muitos sinais na estrada, mas, depois de algumas tentativas, encontramos a via correta.

    Na fronteira da Croácia, apresentamos nossos passaportes. Eu mostrei meu passaporte espanhol, enquanto uma família sueca com crianças e um bebê apresentou os passaportes suecos. Meu amigo de Luxemburgo também apresentou o seu. Como todos éramos europeus, não enfrentamos dificuldades. No entanto, as duas garotas americanas tiveram que sair do carro para fazer o reconhecimento facial. Após cinco minutos, chegamos à entrada da Bósnia, onde enfrentamos mais uma verificação de passaportes. É raro passar por procedimentos assim na Europa, mas compreendi a complexidade da região.

    Finalmente, chegamos a Mostar. A cidade é deslumbrante e famosa por sua ponte, que é o próprio significado da palavra “Most” em bósnio. A ponte foi construída no século XVI e simbolizou a convivência pacífica entre ortodoxos, católicos e muçulmanos ao longo dos séculos. Porém, em 1993, a antiga ponte foi destruída durante a guerra.

    A guerra trouxe divisão. O cerco mais longo e brutal da história moderna aconteceu nas proximidades, em Sarajevo. Os ortodoxos sérvios travavam uma “guerra santa”, enquanto católicos e bósnios consideravam suas ações como uma “guerra justa”, apoiando-se na teologia agostiniana. Os muçulmanos, perdidos em meio a escolha entre apoiar católicos ou fugir dos ortodoxos, enfrentaram um dos piores genocídios da história.

    Com a destruição da ponte, a cidade ficou dividida: católicos de um lado e muçulmanos do outro. O silêncio e a dor prevaleceram, com histórias tristes e lembranças aterradoras registradas em diários que hoje estão expostos no museu local. Essas recordações revelam feridas que ainda estão abertas, representando um capítulo sombrio da antiga Iugoslávia.

    Em 2004, a ponte foi novamente reconstruída. Hoje, é possível cruzar a ponte que, até então, simbolizava a unidade e a fraternidade entre diferentes culturas. No entanto, a cidade ainda é marcada pela divisão: mesquitas de um lado e igrejas do outro.

    As cicatrizes deixadas pelos conflitos de três décadas atrás ainda são profundas. O caminho para a convivência e reconciliação total continua obscuro. Essa visita nos ensina que mesmo os lugares mais belos podem ser marcos de dor e sofrimento.

    Além disso, cidades que já viveram em paz podem se transformar em cenários de batalha. E, tristemente, mesmo entre parentes e irmãos, guerras violentas podem ocorrer.

    Isso não é novidade. Caim e Abel, figuras bíblicas, também enfrentaram esse dilema. O mesmo aconteceu na antiga Iugoslávia e continua a se repetir em diversos conflitos ao redor do mundo, como o que testemunhamos recentemente em Gaza, entre judeus e palestinos, e o ongoing entre ucranianos e russos.

    Aprendemos que a paz é frágil e que é necessário valorizar cada momento de convivência pacífica. Erros do passado devem ser lembrados, para que não se repitam no futuro. A reflexão sobre a história é fundamental para entender a necessidade da empatia e da aceitação mútua.

    Durante a nossa visita, percebemos que as experiências vividas deixaram uma marca em todos nós. Tiramos lições sobre a importância da unidade e da compreensão entre todos, independentemente de crenças ou etnias. O que vivemos em Mostar nos fez reconhecer que a construção de um futuro de paz exige um esforço coletivo.

    Ao longo da jornada de volta, refletimos sobre como a beleza da cidade e a história de sua ponte nos motivam a lutar pela unidade. Embora os desafios sejam muitos e as marcas da história continuem presentes, é essencial buscar formas de promover a reconciliação.

    A experiência de estar em Mostar reafirmou a importância de preservar a memória histórica, especialmente em locais que passaram por grandes tragédias. Ao nos depararmos com o passado, temos a responsabilidade de aprender com ele e, assim, garantir um futuro melhor.

    Em suma, uma viagem a Mostar nos proporciona mais do que belas paisagens; nos convida a refletir sobre a importância da paz e do entendimento mútuo. É um lembrete de que, onde havia divisão, agora deve haver união, e onde havia dor, deve ser plantada a esperança.

    Que esta experiência nos inspire a lutar por um mundo mais pacífico e solidário. Até a próxima!

    Fábio.

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