Nos últimos dez anos, várias clínicas têm surgido no Sul da Califórnia e em outros lugares, oferecendo uma terapia chamada terapia de ressonância magnética (MERT), como uma opção para o autismo.

    Essa terapia foi desenvolvida pela Wave Neuroscience, uma empresa de Newport Beach, e se baseia na estimulação magnética transcraniana (EMT). A EMT é aprovada pela FDA para tratar depressão, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), enxaquecas e dependência do tabaco.

    As clínicas que utilizam a MERT afirmam que seu tratamento pode gerar “resultados milagrosos” em crianças com autismo, ajudando no sono, regulação emocional e habilidades de comunicação. O custo de um tratamento de seis semanas pode chegar a mais de R$ 50 mil.

    A FDA ainda não aprovou a MERT para tratamento do autismo. No entanto, prescrever medicamentos ou dispositivos para condições que não estão aprovadas é uma prática comum e legal na medicina. Para os pesquisadores, tratamentos dessa natureza, especialmente voltados para pessoas vulneráveis, precisam ser baseados em evidências, com informações claras para os pacientes e preços que reflitam a real efetividade.

    Segundo os pesquisadores, a maioria das clínicas que oferecem EMT fora de aprovação não atende a essas exigências. O autismo é descrito como um grande mercado para tratamentos não autorizados, algo que gera preocupação.

    O Dr. Andrew Leuchter, da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), está entre os pesquisadores que pedem diretrizes éticas para a divulgação da EMT. Junto com Lindsay Oberman, do Programa de Pesquisa em Neurostimulação, e Dr. Holly Lisanby, da Universidade Estadual do Arizona, eles destacam a MERT como um exemplo de uma terapia de EMT que carece de evidências suficientes.

    A editorial citou que há poucas provas científicas de que qualquer forma de EMT melhora os sintomas principais do autismo, que incluem dificuldades na comunicação, habilidades sociais e comportamentos perturbadores. Materiais promocionais que não reconhecem essa limitação podem apresentar riscos de expectativas infundadas.

    O presidente da Wave, Dr. Erik Won, não respondeu a pedidos de comentário sobre o tema. Uma investigação feita no ano passado revelou a falta de estudos científicos que comprovem que a MERT seja mais eficaz que um placebo no tratamento dos desafios relacionados à comunicação no autismo. Além disso, a Wave não realizou ensaios clínicos sobre a MERT e o autismo.

    Won afirmou que a empresa está buscando financiamento para mais estudos e, futuramente, uma aprovação da FDA. Muitos sites de clínicas que oferecem a MERT mostram depoimentos de pais relatando melhorias nas emoções ou habilidades de fala de seus filhos após as sessões.

    Entretanto, sem dados concretos, não é possível saber se as experiências relatadas pelos pais são comuns ou exceções. Zoe Gross, do Autistic Self Advocacy Network, um grupo sem fins lucrativos gerido por e para adultos autistas, recomendou cuidado com terapias que sejam promovidas somente por meio de depoimentos.

    Ela destacou que um tratamento pode ter uma taxa de sucesso de apenas 1%, mas ainda assim gerar muitos relatos positivos quando aplicado em milhares de pessoas. Para famílias que têm dúvidas sobre a eficácia de uma terapia comercial, a recomendação é consultar um profissional ou especialista em autismo que não esteja ligado à clínica.

    James McPartland, diretor do Centro de Saúde do Cérebro e da Mente da Universidade de Yale, enfatizou que, antes de investir em um tratamento, é importante ter alguma confiança de que ele será útil.

    O debate sobre terapias não comprovadas e os riscos associados à sua promoção é relevante. É essencial que os tratamentos para condições como o autismo sejam oferecidos com transparência e responsabilidade, sempre com foco na saúde e bem-estar dos pacientes. Portanto, é fundamental que a sociedade busque informações de fontes confiáveis e especialistas antes de tomar decisões importantes sobre tratamentos.

    A discussão sobre a MERT e tratamentos similares reforça a importância de garantir que os pacientes e seus familiares sejam bem informados sobre os procedimentos, custos e possíveis resultados. A ética nas práticas médicas é fundamental para que se preservem os direitos e a saúde dos pacientes, especialmente os mais vulneráveis.

    O cenário atual exige uma vigilância constante por parte dos responsáveis e das instituições de saúde para assegurar que práticas não comprovadas não substituam a medicina baseada em evidência. Isso envolve criar um ambiente em que as famílias se sintam seguras e apoiadas ao buscar tratamentos e onde as informações sobre o que é legalmente permitido e o que realmente funciona sejam claras e acessíveis.

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