Na manhã de quarta-feira (3), Brasília recebeu o lançamento da Série The Lancet, que explora a relação entre Alimentos Ultraprocessados e Saúde Humana. O evento ocorreu no auditório externo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e reuniu pesquisadores e representantes de instituições relevantes. A série de artigos da revista The Lancet, considerada uma das mais respeitadas do mundo, trouxe à tona as evidências científicas sobre os impactos dos alimentos ultraprocessados na saúde.

    Entre os autores presentes estavam Carlos Monteiro e Patrícia Jaime, do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo. Também compareceu o professor Phillip Baker, da Universidade de Sydney, na Austrália. O evento contou com a presença de representantes dos ministérios da Saúde e do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, além de agências da Organização das Nações Unidas (ONU).

    Uma agenda global para enfrentar o consumo de ultraprocessados foi apresentada durante o evento. A cozinheira e escritora Rita Lobo mediu um debate que destacou a importância de promover uma alimentação mais saudável.

    Impactos dos Ultraprocessados

    Carlos Monteiro, que introduziu o conceito de ultraprocessados, apresentou o trabalho feito por uma equipe de 43 pesquisadores que colaboraram na série. Ele destacou uma mudança nos padrões alimentares, onde alimentos tradicionais estão sendo substituídos por opções ultraprocessadas. Um exemplo disso é a troca de bebidas saudáveis, como água e suco natural, por refrigerantes, o que contribui para o aumento de doenças crônicas, como diabetes e obesidade.

    Monteiro explicou que a classificação moderna dos alimentos se divide em quatro categorias: alimentos não processados ou minimamente processados; ingredientes culinários processados; alimentos processados; e alimentos ultraprocessados. Segundo ele, esses últimos devem ser vistos como formulações industriais, que não cumprem a função de alimentos saudáveis.

    Ele também apontou que a substituição de alimentos tradicionais por ultraprocessados já é uma realidade no país, comprovada por três hipóteses testadas em suas pesquisas. O aumento do consumo dessas opções resultou em uma dieta menos saudável e em um maior risco de doenças crônicas.

    Desafios e Políticas Públicas

    O professor ressaltou a necessidade de uma resposta sanitária global para o problema dos ultraprocessados, um ponto destacado por Patrícia Jaime em seu artigo sobre políticas para reduzir a produção e o consumo desses alimentos. Ela sugeriu que é fundamental desenvolver políticas amplas que considerem todos os aspectos do sistema alimentar, desde a produção até a publicidade.

    Uma das propostas inclui a identificação clara dos alimentos ultraprocessados, que poderiam ter um rótulo específico indicando isso. Patrícia destacou também a importância de usar dados nutricionais de cada país para compreender melhor a situação local e promover alternativas alimentares saudáveis.

    De acordo com Patrícia, é urgente a adoção de políticas que levem em conta a transição para dietas ultraprocessadas e as características sociais e econômicas de cada nação.

    Ação Global e Cozinhar

    Phillip Baker, por sua vez, trouxe à tona discussões sobre como os ultraprocessados se tornaram um problema econômico. Ele comparou a situação com a indústria do tabaco, enfatizando a necessidade de enfrentar o poder das corporações que lucram com esses produtos.

    Rita Lobo, por sua experiência e dedicação à culinária, defendeu a importância de resgatar a comida de verdade. Para ela, cozinhar é uma habilidade que todos podem aprender, e é uma ferramenta essencial para evitar o consumo de ultraprocessados. Ela concluiu que a nova classificação dos alimentos é fundamental para esclarecer o que de fato é saudável e destacou o papel que a culinária pode desempenhar na saúde pública.

    O evento mostrou que a luta contra os ultraprocessados é um desafio coletivo que envolve não só a saúde pública, mas também a educação alimentar e a conscientização sobre os riscos associados ao consumo desses produtos.

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