Entendendo o Dilema de Fazer o Bem
Pesquisas recentes mostram que muitas pessoas se sentem pior ao contar sobre suas boas ações do que ao manter esses atos em segredo ou falar sobre conquistas pessoais. Em cinco estudos, os participantes previam sentir mais vergonha e embaraço ao compartilhar atos altruístas. Isso acontece, em parte, por causa do medo de parecerem que buscam reconhecimento social.
Esse “dilema do fazedor de bem” se intensifica nas redes sociais, onde a preocupação com a reputação é ainda maior. Curiosamente, as pessoas acreditavam que outras pessoas se sentiriam muito menos negativas ao compartilhar boas ações semelhantes. Isso mostra uma desconexão entre nossas expectativas emocionais e como imaginamos que os outros se sentem.
Fatos Importantes
- Custo Emocional: Ao compartilhar suas boas ações, as pessoas antecipam embaraço e vergonha, especialmente online.
- Medo de Reputação: Falar sobre altruísmo pode parecer arriscado, pois os indivíduos temem parecer egoístas.
- Diferença de Empatia: Os participantes acham que outras pessoas se sentiriam melhor ao compartilhar atos positivos do que elas mesmas.
O Estudo de Jerry Richardson
Jerry Richardson, um estudante de doutorado em psicologia, estava a caminho de uma festa quando um homem pediu comida na entrada de um mercado. Richardson decidiu ajudar e deu ao homem sete reais em compras. Ele ficou tão feliz com seu gesto que pensou em contar aos amigos sobre a experiência.
No entanto, logo ele sentiu um desconforto e resolveu não mencionar isso aos amigos. Também desistiu de postar sobre o ato de bondade nas redes sociais.
Esse momento levou Richardson e seus colegas a investigar como as pessoas percebem o custo emocional de falar sobre suas boas ações, além de como pensam que os outros reagiriam ao fazer o mesmo.
Richardson foi o autor principal do artigo “O Dilema do Fazedor de Bem”, publicado na revista Journal of Experimental Social Psychology.
Resultados dos Estudos
Nos cinco estudos, os pesquisadores descobriram que as pessoas acreditam que se sentiriam pior ao contar sobre suas boas ações, como ajudar os necessitados, do que ao manter essas informações para si ou ao compartilhar conquistas pessoais, como uma promoção no trabalho.
“Foi surpreendente perceber que as pessoas são bastante intuitivas sobre seus próprios sentimentos – elas acham que se sentirão mal depois”, disse Pizarro, um dos autores do estudo.
Os pesquisadores pediram a várias centenas de pessoas que lembrassem uma boa ação e uma conquista pessoal que tiveram no passado. Em seguida, perguntaram como se sentiram e quais emoções tiveram ao fazer cada ato.
Expectativas Emocionais
Depois disso, os participantes foram questionados sobre como se sentiriam ao compartilhar essas experiências com amigos ou ao postar nas redes sociais. A maioria disse que se sentiria mais envergonhada e embaraçada ao falar sobre suas boas ações, mas mais orgulhosa ao compartilhar conquistas.
“Nossa suspeita é que as pessoas estão cientes de que, ao falar sobre as boas ações que realizam, outros podem julgá-las como buscando reconhecimento ou aumento de reputação”, explicou Richardson.
Esse entendimento ajuda a explicar por que as pessoas preveem um custo emocional ainda maior ao compartilhar um ato de generosidade online, em comparação com contar a um amigo.
O Impacto da Reputação
Os autores destacaram que esse tipo de compartilhamento pode resultar em um sentimento de embaraço ou vergonha, que acaba tirando a satisfação que vem do ato altruísta. As pessoas estão cientes de que há um custo reputacional associado a dividir suas boas ações.
Surpreendentemente, foi observado que os participantes acreditavam que, enquanto se sentiriam mal ao compartilhar suas boas ações, os outros se sentiriam muito melhor ao fazer o mesmo.
Isso pode acontecer porque é difícil realmente imaginar como outra pessoa se sente, segundo Richardson. “Acreditamos que isso acontece porque não temos acesso aos sentimentos internos dos outros de verdade. Nossas tentativas de imaginar o que eles sentem geralmente são menos profundas do que nossos próprios sentimentos”.
Compartilhando Boas Ações
Uma lição importante desse estudo é que compartilhar nossas boas ações pode não ser a melhor maneira de mostrar nossa moralidade. Falar muito sobre o que fazemos de bom pode, na verdade, nos fazer sentir mal.
“Oscar Wilde pode ter razão. Ele disse que a melhor sensação do mundo é fazer uma boa ação anonimamente e depois alguém descobrir”, refletiu Richardson.
Perguntas Frequentes
Como as pessoas acham que os outros se sentirão ao compartilhar boas ações?
Elas acreditam que outras pessoas se sentiriam melhores, mostrando uma diferença na maneira como simulamos as emoções dos outros.
As pessoas sentem o mesmo ao compartilhar conquistas?
Não. Elas acreditam que ficariam orgulhosas e felizes ao compartilhar conquistas pessoais, mas envergonhadas ao compartilhar boas ações.
Como as pessoas acham que os outros se sentiriam ao compartilhar boas ações?
Elas acham que outras pessoas se sentiriam melhores, o que revela uma discrepância na percepção das emoções alheias.
Considerações Finais
O estudo traz à tona a complexidade emocional que envolve compartilhar boas ações. A maioria das pessoas tenderá a evitar falar sobre suas generosidades por medo de ser mal interpretada. O dilema de ser um “fazedor de bem” na sociedade atual é real, principalmente em um mundo onde a imagem e a reputação são prioridades.
Isso nos leva a refletir sobre a verdadeira natureza da generosidade e o valor de fazer o bem sem esperar nada em troca, principalmente em tempos de redes sociais. A generosidade deve ser prática, mas também pode ser feita de uma forma discreta para que a pureza do ato não se perca na busca por validação.
