Assistir a um filme é uma experiência que envolve mais do que entretenimento. Mesmo cientes de que as histórias são criadas por roteiristas, interpretadas por atores e filmadas em cenários fictícios, muitas pessoas se emocionam, riem ou sentem medo em resposta a essas narrativas. Essa reação vai além de uma simples preferência por um filme: é uma resposta do nosso cérebro que interpreta essas experiências como se fossem reais.
Quando assistimos a um filme, a primeira parte do cérebro a ser ativada é o sistema límbico, que está ligado às emoções primárias. Uma das principais estruturas desse sistema é a amígdala, responsável por avaliar se uma cena tem carga emocional, como medo ou tristeza. A ínsula, outra região importante, é responsável pelas sensações internas — como aquele aperto no peito ou o frio na barriga em cenas tensas. Além disso, o hipocampo conecta o que vemos na tela a lembranças pessoais, permitindo que as emoções da ficção ressoem com nossas experiências de vida.
A psicóloga Renata Zonta, especializada em saúde mental, destaca que esses centros emocionais do cérebro não conseguem diferenciar claramente o que é real do que é simbólico. O cérebro basicamente simula o que observa e assimila a experiência como se estivéssemos vivenciando.
Durante o decorrer de um filme, as áreas do cérebro que controlam a análise racional tendem a ficar menos ativas. Esse fenômeno, chamado de “transporte narrativo”, faz com que o espectador se envolva mais com a história, sem questionar sua veracidade. Isso é um dos motivos pelos quais as pessoas se esquecem da realidade ao mergulharem em uma narrativa fictícia.
A empatia também desempenha um papel crucial na conexão emocional com os personagens. À medida que as emoções são ativadas, os neurônios espelho do cérebro ajudam o espectador a entender e sentir o que os personagens estão vivendo. Essas células reproduzem internamente as ações e expressões observadas na tela, facilitando a identificação com a dor, alegria ou tensão que os personagens demonstram.
Narrativas bem desenvolvidas costumam tocar em temas universais, como o medo de perder alguém ou a luta contra a injustiça. Esses elementos geram respostas emocionais, mesmo que o enredo esteja longe da realidade vivida pelo espectador. O neurocientista André Leão explica que nossa imaginação cria simulações do que pode acontecer, ajudando a tornar a história mais realista.
Além dos processos emocionais, dois neurotransmissores são essenciais para as reações que sentimos durante um filme: a dopamina e a oxitocina. A dopamina está relacionada à sensação de antecipação e recompensa, ativando-se em momentos de suspense e reviravoltas na história. Isso é fundamental para manter a atenção e a curiosidade do público em relação ao que virá a seguir.
Por outro lado, a oxitocina está ligada à criação de laços emocionais. Quando um espectador se apega a um personagem, a produção dessa substância aumenta, fortalecendo a conexão emocional com a história. A união desses dois neurotransmissores ajuda a explicar por que determinados filmes conseguem prender a atenção do público do início ao fim.
Portanto, na próxima vez que ver alguém se emocionando em um cinema, saiba que essa reação é uma manifestação natural do cérebro, que processa e simula as emoções que estão sendo retratadas na tela.
