Resumo dos Fatos
A Qualcomm anunciou receita de US$ 11,27 bilhões no quarto trimestre, um aumento de 10% em relação ao ano passado. No entanto, a empresa teve uma perda líquida de US$ 3,12 bilhões. Os negócios de smartphones, automóveis e IoT mostraram crescimento, e a expectativa é que a receita do primeiro trimestre de 2026 fique entre US$ 11,8 bilhões e US$ 12,6 bilhões, um pouco acima do que os analistas previam.
Apesar do crescimento em inteligência artificial (IA), a Qualcomm enfrenta dificuldades para se firmar no mercado de semicondutores, que passou por grandes mudanças. Enquanto empresas como Nvidia e AMD aproveitaram o boom da IA, a Qualcomm ainda busca seu espaço.
Na quarta-feira, a empresa, que está em San Diego, apresentou resultados que superaram as expectativas de Wall Street. A receita subiu 10% em relação ao ano anterior, alcançando US$ 11,27 bilhões. Os ganhos ajustados foram de US$ 3 por ação, acima do que os analistas esperavam. A receita total do ano fiscal foi de US$ 44,3 bilhões, um aumento de 14% na comparação anual.
Apesar do crescimento, a Qualcomm registrou uma perda líquida de US$ 3,12 bilhões, uma grande mudança em relação ao lucro de US$ 2,92 bilhões do ano anterior. Essa perda foi realizada por conta de uma cobrança de US$ 5,7 bilhões relacionada a uma nova lei que exigiu que a empresa ajustasse suas contas fiscais futuras.
Os números mostram uma situação complicada: a Qualcomm apresenta operações estáveis e até melhores em algumas áreas, mas não o suficiente para acompanhar a aceleração causada pela IA, que está mudando o setor de semicondutores.
Investidores perceberam essa situação. As ações da Qualcomm caíram 1,7% após a divulgação dos resultados, evidenciando a desconfiança do mercado sobre a capacidade da empresa de se estabelecer na era da IA.
Crescimento em Smartphones, Automóveis e IoT
Por muitos anos, a força da Qualcomm esteve no mercado de smartphones. Seus chips Snapdragon equipam dispositivos da Samsung, enquanto seus modems conectam milhões de iPhones. No entanto, essa dependência tornou-se um problema, especialmente com a Apple planejando usar modems próprios.
Nos últimos anos, a Qualcomm se esforçou para ampliar sua atuação em outros setores. Essa estratégia começou a trazer resultados. A receita da divisão de handsets subiu 14%, chegando a US$ 6,96 bilhões no quarto trimestre. A unidade automotiva cresceu 17%, totalizando US$ 1,05 bilhão, enquanto a parte de Internet das Coisas (IoT) aumentou 7%, alcançando US$ 1,81 bilhão. Todas essas divisões superaram as expectativas dos analistas, indicando que a diversidade está começando a dar frutos.
No entanto, essas melhorias não mudaram drasticamente a trajetória geral da empresa. A receita total permanece quase estável em relação ao ano passado, enquanto o lucro líquido continua negativo. A divisão de licenciamento, que arrecada royalties de fabricantes de smartphones que usam sua tecnologia, teve uma queda de 7%, restando US$ 1,41 bilhão.
Apesar desse declínio, ele foi menor do que o esperado, mas mostra que as fontes tradicionais de lucro da Qualcomm estão perdendo impulso em um momento em que novos mercados precisam de investimentos altos.
Enquanto isso, a Nvidia consolidou uma posição forte no setor de chips de IA, conquistando grande parte das cargas de trabalho em data centers e aprendizado de máquinas. A AMD também está se destacando, ampliando seus chips de IA e ganhando espaço junto a provedores de nuvem. Em comparação, os esforços da Qualcomm na IA ainda parecem mais uma tentativa de alcançá-los do que uma mudança decisiva.
Foco em IA
A Qualcomm acredita que as coisas estão prestes a mudar. A empresa está investindo na fabricação de chips para data centers de IA, um campo que evitou por bastante tempo, e agora quer enfrentar a concorrência com a Nvidia. Recentemente, anunciou dois novos chips aceleradores de IA, o AI200 e o AI250, que são projetados para equipamentos de data center e vão competir com as GPUs de alta performance da Nvidia. Esses chips devem ser lançados em 2026 e 2027 e podem ser usados em servidores refrigerados a líquido, uma inovação para igualar o desempenho da Nvidia.
Esta iniciativa vem após a aquisição da Alphawave Semi por US$ 2,4 bilhões, que deu à Qualcomm propriedade intelectual e conhecimento técnico em inferência de IA e arquitetura de data centers. Essa compra foi vista como um sinal de que a Qualcomm quer ser um jogador importante na infraestrutura de IA, e não apenas em dispositivos finais, onde já tem um grande domínio.
Porém, o caminho não será fácil. A liderança da Nvidia em software e em ecossistemas de desenvolvedores, além de estruturas de aprendizado profundo, forma uma barreira competitiva forte. A AMD também está aproveitando sua tecnologia de GPU para ganhar espaço com provedores de nuvem. A Qualcomm, agora, precisa mostrar que pode entregar não apenas hardware, mas também soluções completas que os operadores de data center exigem.
Olhando para Frente com Cautela
Apesar de devolver US$ 3,4 bilhões aos acionistas por meio de recompra de ações e dividendos no último trimestre, a força financeira da Qualcomm ainda é menor do que a de seus concorrentes que estão surfando na onda da IA.
Para o futuro, a empresa projeta uma receita no primeiro trimestre entre US$ 11,8 bilhões e US$ 12,6 bilhões, ligeiramente acima das previsões do mercado, e ganhos ajustados entre US$ 3,30 e US$ 3,50 por ação. O CEO Cristiano Amon adotou um tom otimista, destacando o progresso contínuo nas áreas automotivas, de IoT e a expansão para IA e robótica. “Estamos construindo uma Qualcomm mais diversificada”, afirmou.
Apesar disso, os investidores ainda estão céticos. As ações da Qualcomm subiram 17% no ano, mas ficaram abaixo da alta de 22% do Nasdaq e muito longe do aumento de 45% da Nvidia ou dos impressionantes 112% da AMD. Apesar dos avanços, a transformação da Qualcomm em uma história de crescimento impulsionada pela IA ainda não está completa.
Num cenário cada vez mais dominado pela inteligência artificial, a Qualcomm se encontra em um espaço complicado, não sendo mais apenas uma fabricante de chips para smartphones, mas ainda não se tornando uma potência em IA. A empresa deixou claro que deseja superar esse desafio, mas a grande questão é se o mercado dará tempo suficiente para isso acontecer.
