Duplicações e Deleções no Cromo 22 e Doença da Válvula Aórtica Bicuspidiana

    Pesquisadores da UTHealth Houston descobriram que grandes duplicações e deleções na região conhecida como 22q11.2, que envolve genes importantes para o desenvolvimento do coração, estão ligadas à doença da válvula aórtica bicuspidiana não sindrômica.

    Publicada na revista Heart, a pesquisa revelou que 7,4% dos participantes com válvula aórtica bicuspidiana de início precoce apresentaram essas duplicações e deleções raras. Essas variações no cromossomo 22 podem interferir na gravidade da doença e aumentar o risco de complicações.

    A doença da válvula aórtica bicuspidiana, em que a válvula aórtica tem apenas duas lâminas em vez das três habituais, é o defeito cardíaco congênito mais comum. Ela afeta até 2% da população e geralmente está presente desde o nascimento, sendo considerada uma herança dominante. Isso significa que a condição pode ser passada por apenas um dos pais através de mutações genéticas. Com o tempo, a doença pode resultar em complicações graves, como aneurismas da aorta torácica, fraqueza da parede aórtica e estenose aórtica, que é o estreitamento da válvula. “Não sindrômico” indica que essa condição não faz parte de outra síndrome.

    Estudos já mostraram que duplicações ou deleções de DNA em regiões que regulam o desenvolvimento cardíaco causam defeitos congênitos. No entanto, ainda se sabe pouco sobre as variações na região 22q11.2 e sua relação com a válvula aórtica bicuspidiana não sindrômica. Sara Mansoorshahi e Catherina Tovar Pensa, estudantes do terceiro ano de medicina na McGovern Medical School, estão à frente do trabalho para entender melhor essa relação.

    Sara e Catherina focaram em como as variações na região 22q11.2 se relacionam a pacientes com válvula aórtica bicuspidiana de início precoce. Elas querem descobrir se essas variações podem ajudar no cálculo dos riscos para esses pacientes e auxiliar na previsão de complicações futuras e em um melhor gerenciamento clínico.

    A síndrome DiGeorge, que é uma forma de deleção na região 22q11.2, ocorre quando uma pequena parte desse cromossomo está ausente. Essa condição pode surgir em pessoas que herdam esse gene de um dos pais ou mesmo em aqueles cujos pais não têm a alteração. Essa síndrome pode resultar em problemas desde o nascimento devido a malformações cardíacas ou vasculares, além de dificuldades de aprendizado, transtornos psiquiátricos, imunodeficiências e problemas nos rins ou no trato urinário.

    Os pesquisadores utilizaram a técnica de microarray genômico em 272 pacientes com válvula aórtica bicuspidiana e também analisaram 272 parentes biológicos. Durante a pesquisa, todos responderam a um questionário sobre suas histórias médicas, que incluía informações sobre antecedentes cardiovasculares, endócrinos e psiquiátricos. A variação do número de cópias refere-se a quando o número de cópias de um segmento específico de DNA varia entre diferentes pessoas.

    Entre as várias variações identificadas, estavam genes como TBX1, CRKL, HIC2 e MAPK1. Esses genes são essenciais para o desenvolvimento vascular, especialmente para o fluxo sanguíneo no trato de saída do ventrículo esquerdo, que se conecta à aorta. Até o momento, a variação do gene TBX1 não havia sido claramente associada à doença da válvula aórtica bicuspidiana. As mutações em TBX1 e outros genes da região 22q11.2 podem levar a diferenças de aprendizado, deficiências intelectuais, doenças psiquiátricas, convulsões, hipotonia muscular e crescimento aquém do esperado.

    Essas características podem ajudar os médicos a perceberem a necessidade de testes genéticos para variações na cópia do 22q11.2 em pacientes com válvula aórtica bicuspidiana que têm complicações precoces ou outras malformações cardíacas congênitas.

    Sara destacou a importância da pesquisa ao afirmar que os resultados mostraram um aumento significativo dessas variantes genéticas na população com válvula aórtica bicuspidiana. Isso sinaliza que, com mais estudos nessa área, a região 22q11.2 pode se tornar essencial para testes genéticos futuros.

    O estudo foi financiado, em parte, pelos Institutos Nacionais de Saúde, refletindo o interesse em avanços na compreensão de como esses fatores genéticos se relacionam com a saúde cardíaca.

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