Um novo relatório publicado na revista JAMA apresenta várias iniciativas para reduzir significativamente a violência por armas de fogo nos Estados Unidos nos próximos 15 anos. O texto sugere o uso de inteligência artificial (IA) e outras tecnologias para detectar armas escondidas, além de expandir programas que tratam da pobreza, desconfiança social e outros fatores que geram violência nas comunidades americanas.
O documento resume discussões entre 60 especialistas em áreas como saúde pública, criminologia, sociologia e políticas públicas. A JAMA organizou um encontro de dois dias em março passado para criar um “mapa” que leve a uma redução significativa na violência armada, feridos e danos até 2040.
Dr. Frederick P. Rivara, professor de pediatria na Universidade de Washington, presidiu a cúpula e comentou: “Tentamos pensar nas inovações necessárias para lidar com o problema das armas, considerando que vivemos em um país com a Segunda Emenda e aproximadamente 400 milhões de armas nas mãos de civis.”
Desde 2000, mais de 800 mil americanos foram mortos e mais de 2 milhões ficaram feridos por armas. Em 2021, os homicídios por armas chegaram a um pico de 21.383. Apesar da queda de 29% nas taxas desde então, o total de homicídios foi de 16.725 em 2024. Os suicídios com armas, que correspondem a 2 em cada 3 mortes por armas, também aumentaram, alcançando 27.310 em 2023.
O relatório destaca que os danos causados pelas armas vão além das mortes e ferimentos físicos. O estresse psicológico afeta as pessoas que testemunham tiroteios, os que perderam parentes e aqueles que vivem com medo da violência armada em suas comunidades.
Embora algumas decisões da Suprema Corte dos EUA tenham limitado restrições à posse de armas, o relatório observa que várias leis que regulamentam o uso de armas, como checagens de antecedentes e exigências de armazenamento seguro, ainda são válidas e são aplicadas em muitos estados.
Programas sociais promissores mencionados no relatório incluem intervenções em violência comunitária. Esses programas conectam as forças de segurança e os serviços sociais para ajudar indivíduos de alto risco a conseguirem moradia, assistência financeira, treinamento e apoio terapêutico.
O relatório afirma que a IA pode ajudar a aprimorar a aplicação da lei e os programas de intervenção comunitária, identificando pessoas e locais de alto risco. No entanto, esse uso da tecnologia levanta questões sobre privacidade e direitos civis, que devem ser discutidas paralelamente.
Além disso, o documento pede ações sobre as causas profundas da violência armada, mudando estruturas sociais desiguais que geram esses problemas. Essa abordagem é chamada de “prevenção primordial”. As ações incluem promover “estabilidade habitacional, oportunidades econômicas, melhorias ambientais e políticas equitativas” em comunidades que sofreram com séculos de segregação e abandono.
O relatório conclui que a promessa da prevenção primordial está em sua capacidade de mudar as condições que tornam a violência possível e, ao mesmo tempo, melhorar a saúde e a segurança. Ao restaurar a confiança, redistribuir o poder e reformular o contexto social, essas inovações podem ajudar a construir um futuro onde os ferimentos por armas não sejam apenas tratados, mas evitados.
Outros autores da Universidade de Washington que contribuíram para o relatório são os Drs. Ali Rowhani-Rahbar, professor de epidemiologia e pediatria, e Dimitri Christakis, também professor de pediatria. As contribuições deles são importantes para abordar esse desafio complexo e significativo.
A proposta do relatório é um chamado à ação. Ele convoca não apenas especialistas, mas toda a sociedade, a se engajar em discussões sobre a violência armada e suas repercussões. A ideia é que o trabalho conjunto da comunidade possa resultar em soluções eficazes e duradouras.
As iniciativas sugeridas buscam ser um reflexo das necessidades reais das comunidades enfrentando esses problemas. Portanto, é fundamental que haja diálogo e colaboração entre diferentes setores, incluindo governo, organizações não governamentais e a própria população.
O uso de tecnologias, como a IA, pode trazer benefícios, mas é essencial garantir que a implementação dessas ferramentas respeite a privacidade e os direitos dos cidadãos. Isso envolve um equilíbrio delicado entre segurança e liberdade, que deve ser constantemente avaliado.
Por fim, o relatório destaca que a construção de um ambiente social mais equitativo e seguro pode reduzir significativamente a violência por armas. Essa mudança não ocorrerá da noite para o dia, mas com esforços contínuos e direcionados, existe a esperança de um futuro melhor.
Estamos diante de um desafio que exige a atenção de todos. Avaliar como cada um de nós pode contribuir, por meio de apoio, envolvimento ou conscientização, é um primeiro passo vital para enfrentar essa questão preocupante. Com o envolvimento adequado e a determinação de todos, podemos trabalhar em direção a uma sociedade mais pacífica e segura para todos.
