Na semana passada, o governador da Califórnia, Gavin Newsom, se viu no centro de uma polêmica relacionada a políticas de saúde, especialmente no que diz respeito ao tratamento da menopausa. Durante uma reunião de gabinete, Robert F. Kennedy Jr. criticou Newsom por vetar um projeto de lei que visava a melhorar os cuidados para mulheres nessa fase da vida.

    O projeto, conhecido como Lei de Equidade no Cuidado da Menopausa (AB 432), tinha forte apoio legislativo e visava garantir que as seguradoras cobrissem medicamentos para a menopausa, além de recompensar médicos que buscassem se atualizar sobre o tema. Kennedy declarou que a decisão de Newsom era preocupante, especialmente considerando que as mulheres representam metade da população.

    A menopausa é um processo natural pelo qual todas as mulheres passam ao final da sua fertilidade, acompanhada por sintomas que podem ser severos. Entretanto, a falta de informação e de formação adequada entre muitos médicos faz com que muitas mulheres passem por essa fase sem o tratamento necessário.

    Um dos problemas que se arrastam nesse contexto é a chamada “caixa preta”, um aviso que alguns medicamentos de terapia de reposição hormonal (TRH) carregam desde um estudo em 2002 que sugeriu riscos maiores de câncer e doenças cardíacas. Com o passar dos anos, outros estudos contradisseram essa visão, mostrando que a TRH pode, na verdade, oferecer benefícios significativos, como proteção contra declínio cognitivo e alívio de sintomas como ondas de calor.

    Recentemente, a Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos removeu esse aviso de vários medicamentos de TRH, o que pode facilitar o acesso das mulheres a esses tratamentos e incentivar os médicos a prescrevê-los.

    A questão da cobertura de tratamentos para a menopausa vai além da medicina e toca em problemas financeiros. Atualmente, as seguradoras têm o poder de aprovar ou negar tratamentos que os médicos recomendam, uma prática conhecida como “gestão de utilização”. Isso levanta a pergunta sobre quanto poder as seguradoras devem ter para interferir nas decisões de saúde.

    Kennedy manifestou apoio à alteração nesse cenário e prometeu que em até três anos haveria mudanças significativas nesse processo, facilitando o acesso a tratamentos. No entanto, o obstáculo permanece na gestão de utilização, que pode ser uma barreira real para as mulheres que necessitam de intervenções adequadas.

    Para complicar ainda mais, Newsom indicou que pretende abordar a questão da cobertura para a menopausa em sua proposta orçamentária, em vez de avançar com um novo projeto de lei. Essa abordagem é estratégica, já que orçamentos costumam passar mais facilmente do que leis completas, mas também gera incerteza sobre como as mulheres serão beneficiadas.

    A deputada Rebecca Bauer-Kahan, que trabalhou na elaboração do projeto de lei vetado, continua se empenhando em encontrar formas de melhorar o acesso aos cuidados de saúde para a menopausa. Ela acredita que a gestão de utilização não deve ser um impedimento para que as mulheres recebam o tratamento necessário.

    A oposição ao projeto veio, principalmente, de seguradoras que consideram que a obrigatoriedade de cobertura de tratamentos poderia aumentar os custos. A assessoria de Newsom justificou o veto de outubro alegando que a proibição da gestão de utilização poderia limitar a capacidade das seguradoras em manter os cuidados acessíveis.

    O debate sobre as políticas de tratamento da menopausa e a relação com as seguradoras permanece em aberto, com expectativas de que mudanças possam surgir em janeiro. A saúde das mulheres e a forma como são tratadas nesse momento crítico de suas vidas continuam sendo uma questão central a ser discutida nas esferas política e médica.

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