Cuidado com a saúde mental no fim de ano: a “dezembrite”
O período de festas de fim de ano, que traz comemorações familiares e confraternizações, pode ser desafiador para muitas pessoas. Embora a “síndrome de fim de ano” não seja reconhecida como um transtorno psiquiátrico, especialistas alertam para a necessidade de atenção redobrada à saúde mental durante esses meses.
A psicóloga Ana Paula Souza observa que, com a chegada das festividades, sentimentos como solidão, tristeza e ansiedade podem se intensificar. Muitas pessoas refletem sobre o ano que passou, o que pode acentuar uma sensação de insatisfação e descontentamento.
Ela explica que o clima festivo também traz pressões sociais e financeiras, além de um aumento nas demandas de trabalho. “Esse período funciona como um gatilho que pode reativar conflitos antigos e sentimentos de falta”, destaca Ana. A comparação com as conquistas de outras pessoas, especialmente nas redes sociais, também contribui para essa angústia.
Profissionais da saúde apontam que é comum que a busca por apoio emocional cresça nesse período. A reflexão sobre a vida pode fazer com que algumas pessoas reconheçam a necessidade de ajuda. Além disso, eventos passados, como conflitos familiares, podem ressurgir, gerando ainda mais ansiedade.
Ana Paula também alerta que essa pressão pode agravar quadros de depressão em pessoas que já estão lutando com a saúde mental. “Muitas vezes, quem está firme em um tratamento sente a corrente emocional intensa do fim de ano, o que pode causar uma recaída”, explica.
É importante mudar a perspectiva sobre as expectativas de felicidade nessa época. Sentimentos como tristeza, solidão e irritabilidade são normais, e não participar de festas pode ser uma escolha saudável. Ana descreve a “dezembrite” como reações emocionais vinculadas a uma sensação de fracasso ou inadequação em comparação com as festividades.
Vários rostos da “dezembrite”
Os relatos sobre essa síndrome mostram como seus efeitos são pessoais. A estudante Cecília Ribeiro, 23 anos, descreve uma sensação de vazio e nostalgia ao pensar nas falhas do ano que se encerra. Para aliviar a angústia, ela recorre à terapia e atividades que a distraem.
Isabelle Cavalcante, também de 23 anos, sente um aperto no peito que vem acompanhado de melancolia, especialmente devido a memórias familiares complicadas. Para lidar com isso, ela busca introspecção e evita sair muito, preferindo momentos de tranquilidade.
Leônidas Carvalho, 25 anos, compartilha que, após seu aniversário em novembro, entra em um estado de reflexão profunda, o qual não considera necessariamente negativo, mas que o leva a lidar com novas emoções e expectativas.
Cecília, Isabelle e Leônidas relatam que a “dezembrite” os acompanha há anos, intensificando suas reflexões sobre o passado e o futuro. A transição para o novo ano pode ser vista como uma nova chance, mas também traz o medo de repetir antigos erros.
Dicas para enfrentar a angústia
Os especialistas sugerem que entender a “síndrome de fim de ano” é o primeiro passo para lidar com ela. Reconhecer que esses sentimentos são válidos e sinalizam que algo precisa de atenção é crucial. Ana orienta a prática do autocuidado e a aceitação do que se sente, enfatizando a importância de buscar ajuda profissional se necessário.
Além disso, impôr limites e evitar comparações com os outros pode ajudar. É bom lembrar que não há obrigação de participar de todas as festas. O foco deve ser em estabelecer pequenas metas pessoais, reconhecendo que o final de ano é um momento para avaliar o que foi vivido e agradecer as conquistas, por menores que sejam.
Por fim, se a angústia persistir e causar desconforto intenso, procurar ajuda profissional pode ser um passo fundamental para encontrar um caminho claro para o bem-estar mental.
