Crise na Saúde Suplementar: Unimed em Dificuldades

    A recente parceria entre a Unimed Ferj e a Unimed do Brasil, que teve início em 20 de novembro, é apresentada como uma solução pela autoridade regulamentadora, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). No entanto, profissionais ligados à saúde, como funcionários de hospitais e clínicas, veem essa mudança com ceticismo, considerando que se trata apenas de uma nova tentativa de lidar com problemas antigos que duram mais de dez anos no estado do Rio de Janeiro.

    Com essa nova gestão, a Unimed Ferj, que atende 344 mil beneficiários, passou a compartilhar sua operação. Apesar das promessas de melhorias, muitos acreditam que essa mudança não aborda as questões financeiras estruturais e que o problema apenas foi agravar-se. Os prestadores de serviços estão preocupados, pois a situação financeira da operadora não parece ter solução à vista.

    A Unimed Ferj assumiu a operação com uma dívida de aproximadamente R$ 1,6 bilhão, mas agora essa dívida saltou para cerca de R$ 2 bilhões, sem que houvesse um plano eficaz de recuperação. As autoridades e representantes da área de saúde afirmam que a arrecadação e o compartilhamento do risco estão mal estruturados. Hoje, apenas cerca de 7% do que é arrecadado fica com a Unimed Ferj, um valor que é insuficiente para cobrir tanto as suas despesas operacionais quanto as dívidas herdadas, tornando essa abordagem cada vez mais inviável.

    Os prestadores de serviços de saúde relataram uma pressão crescente, obrigando-os a realizar atendimentos sem contratos definidos e sem garantias de pagamento. Esta situação tem forçado hospitais e clínicas a se tornarem responsáveis financeiramente por uma operadora que está enfrentando dificuldades. Essa mudança de responsabilidade não é considerada justa, pois não cabe a quem fornece os serviços arcar com as falhas de uma operadora que não consegue equilibrar suas contas.

    Outro problema sério é a falta de transparência nas informações sobre o estado financeiro. Não há dados claros sobre quanto é a real dívida da Unimed-Rio, o que foi gerado sob a gestão atual, e os recursos efetivamente disponíveis. A ANS, que deveria garantir a clareza nesta situação, ainda não apresentou informações completas sobre os números e os compromissos da operadora.

    A realidade no campo da saúde é alarmante: grandes redes hospitalares já pararam de aceitar novos atendimentos, e empresas que oferecem cuidados domiciliares estão se recusando a atender novos pacientes, especialmente aqueles com condições crônicas. Essa situação não é apenas uma questão administrativa; tem um impacto direto na vida de muitas pessoas que dependem desses serviços.

    Diante desse cenário crítico, a ANS não pode apenas observar. A agência precisa zelar pela transparência dos dados financeiros e pela viabilidade das soluções propostas. Aprovar um modelo que não apresenta garantias efetivas é transferir o risco para quem realmente opera na linha de frente da saúde.

    Nos últimos anos, várias tentativas de resolver essa crise foram implementadas, mas todas falharam e deixaram um rastro de dívidas maiores e um sistema de saúde mais frágil. As soluções apresentadas até agora foram sempre consideradas responsáveis, mas o resultado foi um aumento da vulnerabilidade dos pacientes e a fragilidade da rede de atendimento.

    Para que o sistema de saúde suplementar funcione adequadamente, não se pode ignorar aspectos fundamentais como garantias financeiras e contratos claros. Sem isso, as operadoras não conseguirão manter os serviços, e os pacientes ficarão sem atendimento.

    Os prestadores de serviço não pedem nada mais do que transparência sobre as finanças, garantias mínimas, um plano de recuperação e uma reformulação que evite que o problema seja empurrado para frente. Eles exigem uma real participação nos debates envolvendo a ANS e outras entidades.

    A saúde suplementar depende fundamentalmente de uma rede de prestadores que funcione adequadamente. O que está em jogo não é apenas a reputação de uma marca, mas a saúde e continuidade do atendimento para milhões de pessoas no estado do Rio de Janeiro.

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