Estudo Revela Impacto dos Alimentos Ultraprocessados na Saúde e no Meio Ambiente
Uma pesquisa extensa revelou que o sistema alimentar atual, que contribui para a obesidade da população global, também intensifica o aquecimento global. O estudo enfatiza a urgência de lidar com esses sistemas alimentares insustentáveis, que não só afetam a saúde pública, mas também o clima do planeta.
Os pesquisadores identificaram uma relação direta entre a obesidade e o impacto ambiental resultante de um modelo de produção que prioriza o lucro. Esse sistema leva ao consumo excessivo de alimentos hipercalóricos e com pouca fibra, em especial os ultraprocessados. A produção deste tipo de alimento, especialmente os de origem animal, está associada à liberação de grandes quantidades de gases de efeito estufa, além de degradação dos recursos naturais como terra e água.
Projeções Alarmantes para a População Mundial
De acordo com as projeções, até 2035, cerca de metade da população mundial poderá ter sobrepeso ou obesidade, o que aumenta os riscos de doenças graves como problemas cardíacos e câncer. Simultaneamente, o aquecimento global já resulta na morte de uma pessoa a cada minuto em todo o mundo, totalizando aproximadamente 546 mil mortes por ano entre 2012 e 2021, um aumento significativo desde a década de 1990.
A produção de alimentos representa de 25% a 33% das emissões de gases de efeito estufa e é uma das principais causas do desmatamento e da perda de biodiversidade. Um dado alarmante destaca que, mesmo que todas as emissões de combustíveis fósseis fossem eliminadas hoje, a atual agricultura ainda poderia levar o aumento da temperatura global além de 2°C, limite que está presente nos acordos climáticos internacionais.
O Papel da Carne e dos Ultraprocessados
A produção de carne, especialmente a bovina, é um dos maiores responsáveis por essas emissões. O estudo esclarece que não todos os alimentos ultraprocessados têm o mesmo impacto: aquelas carnes processadas e os produtos ricos em calorias e pobres em fibras têm efeitos mais negativos para a saúde quando comparados a opções de ultraprocessados menos calóricos e à base de plantas.
Uma pesquisa realizada na China revelou que 50% dos novos casos de câncer estão ligados à obesidade, com um aumento notável entre as gerações mais jovens. O impacto para a saúde faz da obesidade um dos principais fatores que afetam a saúde global. Em 2019, os custos associados à obesidade representaram mais de 2% do PIB mundial, com previsões de que esse total exceda 4 trilhões de dólares até 2035 se as tendências atuais continuarem.
Necessidade de Soluções Abrangentes
Os pesquisadores questionam a crença de que tratamentos como medicamentos para emagrecer são a solução para a obesidade, uma vez que não atacam as causas estruturais que também afetam o clima. Embora essas opções sejam importantes para quem já enfrenta o problema, não abordam o ambiente alimentar que influencia a saúde de comunidades inteiras.
Além disso, surgem preocupações sobre a acessibilidade e segurança a longo prazo desses tratamentos, especialmente entre jovens e populações de baixa renda, que são cada vez mais afetadas pela obesidade.
Ações Propostas para Combater a Crise
Com base em várias áreas de conhecimento, os pesquisadores sugerem seis ações principais para melhorar tanto a saúde pública quanto o clima:
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Impostos sobre ultraprocessados: Criar tributos sobre alimentos ultraprocessados e bebidas açucaradas para desencorajar o consumo.
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Subsídios para alimentos saudáveis: Facilitar o acesso a alimentos minimamente processados e saudáveis, financiados através dos impostos sobre alimentos não saudáveis.
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Educação sobre o custo real dos alimentos: Conscientizar o público e os profissionais de saúde sobre os impactos reais dos alimentos na saúde e no meio ambiente.
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Rotulagem e restrições de marketing: Implementar rótulos informativos e restringir a venda de alimentos não saudáveis para crianças, especialmente em comunidades menos favorecidas.
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Refeições escolares saudáveis: Promover refeições saudáveis nas escolas e priorizar a compra de alimentos locais.
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Transição para dietas mais sustentáveis: Incentivar dietas baseadas em plantas, com alimentos minimamente processados e ricos em fibras, reduzindo o consumo de produtos de origem animal.
A Importância da Prevenção
O estudo ressalta que prevenir o ganho de peso por meio de um ambiente alimentar mais saudável é “muito mais barato e menos doloroso” do que lidar com os efeitos da obesidade e das mudanças climáticas, ou aplicar tratamentos individuais sem mudar o contexto geral.
Os autores do estudo mencionam que as estratégias atuais para combater a obesidade têm focado nas escolhas individuais, um modelo que não tem conseguido conter o crescimento da obesidade. Eles argumentam que mudanças coordenadas, baseadas em evidências científicas, nos ambientes alimentares são essenciais para resolver tanto a obesidade quanto os problemas ambientais.
A Necessidade de Uma Nova Abordagem
Reenquadrar a obesidade como uma doença, em vez de uma questão de responsabilidade individual, pode facilitar a criação de políticas mais eficazes. É fundamental reconhecer que as interconexões entre alimentos ultraprocessados, obesidade e clima são complexas e ainda precisam de mais investigação.
O estudo conclui que enfrentar as crises de obesidade e mudanças climáticas requer uma transformação fundamental nos métodos de produção, comercialização e consumo de alimentos. As políticas devem priorizar a saúde pública e a sustentabilidade ambiental em vez de atender apenas aos interesses da indústria alimentícia.
