Estudo Mostra Impacto de Alimentos Ultraprocessados na Saúde e no Meio Ambiente

    Uma pesquisa abrangente revelou que o atual sistema alimentar, responsável pelo aumento da obesidade no mundo, também está contribuindo para o aquecimento global. O estudo destaca a urgência de confrontar esse modelo insustentável, que tem consequências tanto para a saúde das pessoas quanto para o clima do planeta.

    Os pesquisadores analisaram como a obesidade e a degradação ambiental estão relacionadas a um sistema alimentar focado no lucro, que incentiva o consumo excessivo de produtos hipercalóricos e pobres em fibras, especialmente os ultraprocessados. Esses alimentos não apenas favorecem o ganho de peso, mas sua produção, especialmente a de produtos de origem animal, emite grandes quantidades de gases de efeito estufa e pressiona os recursos naturais, como terra e água.

    Previsões Alarmantes Sobre Obesidade

    As projeções sobre obesidade são preocupantes: até 2035, estima-se que metade da população mundial terá sobrepeso ou obesidade, o que aumenta o risco de doenças sérias, como problemas cardíacos e câncer. Além disso, o aquecimento global já causa cerca de 546 mil mortes por ano globalmente, com essa taxa crescendo desde a década de 1990.

    A produção de alimentos é responsável por uma significativa parcela das emissões de gases de efeito estufa, variando entre 25% e 33%. Essa prática também é a principal responsável pelo desmatamento e pela perda de biodiversidade. Um dado alarmante apontado no estudo revela que, se a emissão de gases de combustíveis fósseis cessasse hoje, os métodos de produção de alimentos já poderiam elevar as temperaturas globais além do limite de 2°C estabelecido por acordos climáticos.

    O Papel da Carne e dos Ultraprocessados

    A produção de carne, especialmente de ruminantes como o gado, é um dos maiores problemas. A carne bovina, por exemplo, gera muito mais emissões que alimentos vegetais. O estudo também destaca que nem todos os ultraprocessados são iguais: enquanto alguns podem ser menos calóricos e ricos em fibras, outros, como carnes processadas, apresentam impactos prejudiciais tanto para a saúde quanto para o meio ambiente.

    Uma pesquisa recente da China constatou que quase metade dos novos casos de câncer diagnosticados estão ligados à obesidade, com um aumento alarmante entre os mais jovens. Essa condição já representa um grande desafio de saúde pública, custando ao mundo mais de 2% do PIB em 2019, com previsões que podem ultrapassar US$ 4 trilhões até 2035 se as tendências atuais persistirem.

    Necessidade de Abordagens Mais Abrangentes

    Os pesquisadores argumentam que confiar apenas em medicamentos para perda de peso não é suficiente. Esses tratamentos não abordam as causas estruturais que afetam a saúde da população e o clima. Embora opções como medicamentos e cirurgias bariátricas sejam importantes, elas não resolvem o problema em um nível mais amplo.

    A discussão sobre a acessibilidade e a segurança a longo prazo de tais tratamentos é fundamental, especialmente considerando que a obesidade está afetando cada vez mais pessoas jovens e de baixa renda.

    Recomendações para um Sistema Alimentar Mais Saudável

    Os pesquisadores sugerem ações urgentes, baseando-se em diversos campos do conhecimento, como saúde pública e ciência ambiental:

    1. Impostos sobre Ultraprocessados e Bebidas Açucaradas: Taxar alimentos ultraprocessados de alto valor calórico e bebidas adoçadas para desincentivar seu consumo.

    2. Subsídios para Alimentos Saudáveis: Tornar alimentos minimamente processados e saudáveis mais acessíveis por meio de financiamento advindo da taxação de produtos não saudáveis.

    3. Educação sobre Alimentação: Promover a conscientização pública sobre os reais impactos dos alimentos consumidos.

    4. Rotulagem e Restrição de Marketing: Implementar rotulagem clara e restringir a publicidade de alimentos não saudáveis, especialmente para crianças em comunidades vulneráveis.

    5. Políticas de Alimentação Escolar: Incentivar a oferta de refeições saudáveis nas escolas, utilizando produtos locais.

    6. Transição para Dietas Baseadas em Plantas: Promover uma alimentação mais rica em fibras e vegetais, reduzindo o consumo de produtos de origem animal.

    A Importância da Prevenção

    Prevenir o ganho de peso por meio de um ambiente alimentar mais saudável é considerado muito mais eficaz e barato do que lidar com as consequências da obesidade e das mudanças climáticas. A abordagem atual, que se concentra na responsabilidade individual, não tem sido suficiente para conter o aumento da obesidade. Reformas sistemáticas e baseadas em evidência podem ter um impacto positivo tanto na saúde pública quanto na sustentabilidade ambiental.

    Os pesquisadores finalizam ressaltando que é preciso redefinir a obesidade como uma doença, o que ajudaria na formulação de políticas. Eles enfatizam a complexidade das relações entre alimentos ultraprocessados, obesidade e clima, alertando para a necessidade de mais pesquisas nesse campo. A mensagem central do estudo enfatiza a urgência de reformular a produção, comercialização e consumo de alimentos, priorizando a saúde e o meio ambiente.

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