Alimentos Ultraprocessados: Impactos na Saúde e no Meio Ambiente

    Uma pesquisa recente mostrou uma ligação preocupante entre os alimentos ultraprocessados, o aumento da obesidade e o aquecimento global. De acordo com o estudo, o sistema alimentar atual, que prioriza o lucro, não só tem contribuído para a obesidade crescente, mas também está acelerando as mudanças climáticas.

    Os pesquisadores identificaram que a dieta da população mundial está fortemente ligada ao consumo excessivo de produtos ultraprocessados, que geralmente são ricos em calorias e pobres em nutrientes. Esses alimentos incentivam o ganho de peso, enquanto sua produção, especialmente a de carne, é uma das principais fontes de emissões de gases de efeito estufa. Além disso, essa produção causa desmatamento e degradação da biodiversidade.

    Cenários alarmantes se desenham para o futuro: até 2035, a expectativa é que metade da população mundial esteja acima do peso, aumentando o risco de doenças graves, como problemas cardíacos e câncer. Entre 2012 e 2021, a mudança climática já causou cerca de 546 mil mortes anuais, um crescimento significativo em relação a décadas anteriores.

    Atualmente, a produção agrícola é responsável por cerca de 25% a 35% das emissões de gases de efeito estufa. Estima-se que, se as emissões de combustíveis fósseis parassem hoje, os sistemas alimentares ainda poderiam fazer as temperaturas globais ultrapassarem os 2°C, um limite crítico estabelecido em acordos climáticos.

    Um dos maiores vilões desse cenário é a carne de ruminantes, como a bovina, que gera muito mais emissões do que os alimentos de origem vegetal. É importante ressaltar que nem todos os alimentos ultraprocessados têm os mesmos efeitos. Carnes processadas e opções ricas em calorias se mostram mais prejudiciais em comparação a alternativas vegetais com mais fibras.

    Um estudo realizado na China revelou que aproximadamente metade dos novos casos de câncer diagnosticados estava ligada à obesidade, evidenciando o crescimento alarmante do problema entre os jovens. Além dos impactos na saúde, a obesidade representa um custo elevado para a economia global, com despesas que superaram 2% do PIB mundial em 2019 e devem ultrapassar 4 trilhões de dólares até 2035 se as tendências atuais persistirem.

    Os pesquisadores acreditam que apenas recorrer a medicamentos para perda de peso não resolve a questão, pois é preciso abordar as causas sistêmicas que contribuem para a obesidade e para o impacto ambiental. Embora as opções de tratamento sejam importantes, elas não tratam o problema mais amplo que afeta comunidades inteiras e sistemas ecológicos.

    Para lidar com essas questões, os cientistas propõem seis ações urgentes:

    1. Impostos sobre ultraprocessados: Aplicar taxações sobre alimentos ultraprocessados e bebidas açucaradas para desencorajar o consumo.

    2. Subsídios para alimentos saudáveis: Aumentar a acessibilidade de alimentos saudáveis e minimamente processados, financiados por impostos sobre produtos nocivos.

    3. Educação sobre o custo real dos alimentos: Melhorar a conscientização sobre os impactos alimentares, tanto para a saúde quanto para o meio ambiente.

    4. Rotulagem e restrições de marketing: Implementar rotulagem clara e restringir a publicidade de alimentos não saudáveis, especialmente voltada para crianças.

    5. Políticas para alimentação escolar saudável: Apoiar refeições saudáveis nas escolas e promover o fornecimento local de alimentos.

    6. Transição para dietas baseadas em plantas: Incentivar o consumo de alimentos vegetais e minimamente processados, reduzindo a dependência de produtos de origem animal.

    Os pesquisadores ressaltam que prevenir o ganho de peso por meio de ambientes alimentares saudáveis é mais econômico e menos prejudicial do que lidar com as consequências da obesidade e das mudanças climáticas. Até o momento, as estratégias de combate à obesidade focaram na responsabilidade individual, falhando em conter o aumento adequado desse problema.

    O estudo sugere uma mudança de perspectiva sobre a obesidade, tratando-a como uma doença que deve ser abordada por políticas que revertam as condições que influenciam as escolhas alimentares. As evidências mostram que a conexão entre alimentos ultraprocessados, obesidade e questões climáticas é complexa, mas é crucial que sejam realizadas mais pesquisas.

    A conclusão é clara: para enfrentar as crises de obesidade e mudanças climáticas, é necessário transformar a forma como alimentamos a população, priorizando a saúde pública e a sustentabilidade em detrimento do lucro.

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