Parceria entre Embrapa e Morfo Brasil Investem em Sementes Florestais para Restaurar Biomas

    A Embrapa Agrobiologia e a Morfo Brasil estão realizando um estudo importante sobre sementes de espécies nativas da Mata Atlântica, do Cerrado e da Amazônia. Esses biomas são essenciais para a biodiversidade do planeta, mas têm sofrido degradação ao longo dos anos.

    De acordo com Emira Cherif, diretora científica da Morfo, o objetivo da pesquisa é desenvolver novos protocolos para melhorar o manejo e a conservação das sementes, além de facilitar o processo de germinação e o armazenamento. Este projeto tem uma duração prevista de dois anos e promete avanços que podem aumentar a produtividade e reduzir custos na restauração ecológica.

    Ciência e Tecnologia na Restauração Ambiental

    A cientista Juliana Müller Freire, da Embrapa, aponta que a diversidade de espécies e a falta de informações sobre elas são grandes desafios. A dificuldade em conseguir sementes de qualidade e em quantidade adequada faz com que os projetos fiquem mais caros.

    As sementes florestais ainda não têm as técnicas de beneficiamento que as sementes agrícolas possuem. Isso acaba afetando a eficácia dos programas de reflorestamento. Freire destaca que a parceria com a Morfo oferece sementes limpas e prontas para estudo, o que é fundamental para a restauração dos biomas.

    Um problema que merece atenção é a falta de sementes de qualidade em nível global. Um estudo revelou que o Brasil precisa entre 3,6 mil e 15,6 mil toneladas de sementes para cumprir sua meta de restauração. A quantidade varia conforme a qualidade das sementes. Se as sementes forem de alto vigor, menos serão necessárias, mas se forem de baixa qualidade, a demanda aumenta.

    A Rota da Qualidade das Sementes

    A Morfo Brasil vai enviar lotes de sementes adquiridos de coletores nos três biomas à Embrapa mensalmente. Esses lotes passarão por testes de germinação, pureza e teor de água. O peso de mil sementes também será medido para avaliar a eficiência entre as diferentes espécies.

    Além disso, uma pesquisa será feita para reunir informações sobre o processo de secagem, armazenamento e dormência de cada espécie. O objetivo é identificar o que falta em termos de conhecimento e criar protocolos adequados para a conservação.

    As avaliações seguem as diretrizes do Ministério da Agricultura, que estabelecem normas para análise de sementes. Isso garante que as sementes mantenham seu potencial genético adequado ao local de plantio.

    Fatores como cor, tamanho e teor de umidade são aspectos essenciais. Uma semente de qualidade é aquela que pode gerar descendentes saudáveis e adaptados ao meio.

    Dados da Embrapa mostram que sementes de alta qualidade podem reduzir a quantidade usada por hectare. Para semeadura direta, 37 quilos de sementes de baixa qualidade são necessários, enquanto apenas 17 quilos de sementes de alto vigor produzem o mesmo resultado. Isso pode reduzir custos em até cinco vezes, tornando a restauração mais viável e sustentável.

    Etapas para Obtenção de Sementes Florestais

    O processo para conseguir sementes florestais envolve várias etapas:

    • Seleção da fonte: permite saber a origem genética das sementes.
    • Colheita: respeitando o período ideal e as características de cada espécie.
    • Secagem: que pode ser feita ao ar livre ou em estufas, crucial para a viabilidade.
    • Beneficiamento: remove sementes indesejadas, aumentando a pureza.
    • Armazenamento e plantio: a conservação correta mantém a viabilidade.

    Essas etapas são importantes para garantir que as sementes sigam os padrões de qualidade exigidos.

    Em algumas espécies, como a mamica-de-porca, a baixa taxa de germinação continua sendo um desafio. Outras espécies requerem um controle rigoroso de umidade, pois não toleram secagem.

    Comunidades e Legislação: O Elo Social na Restauração

    A cadeia de valor das sementes florestais é vital para a restauração ecológica dos biomas. A coleta e venda dessas sementes envolve muitos trabalhadores, incluindo comunidades tradicionais, indígenas e agricultores familiares. Essas redes fortalecem a diversidade genética e preservam saberes locais.

    Porém, essas comunidades enfrentam barreiras técnicas, como a falta de equipamentos e informações sobre armazenamento. Conhecer o tempo de viabilidade de cada espécie ajuda na produção e venda. Por exemplo, a braúna mantém sua qualidade por nove meses fora de um ambiente controlado, enquanto o ipê apenas por três meses.

    Esse conhecimento ajuda a otimizar o uso de geladeiras e a evitar perdas. Investir em capacitação técnica fortalece a autonomia dessas comunidades e melhora a renda local.

    No entanto, a legislação ainda precisa de ajustes. O Registro Nacional de Sementes e Mudas (Renasem) não atende às necessidades específicas das sementes florestais nativas. Mais de mil coletores não estão registrados, o que invisibiliza uma parte importante da cadeia.

    Restauração dos Biomas e um Futuro Sustentável

    Para mudar essa situação, um estudo sugere algumas ações: incentivos do governo, fiscalização das metas de restauração, envolvimento das comunidades, adaptação das normas legais, estímulo à pesquisa e diversificação de mercados. Essas medidas podem trazer benefícios tanto ambientais quanto econômicos, promovendo uma bioeconomia inclusiva e sustentável.

    Ao alinhar tecnologia, políticas públicas e saberes tradicionais, o Brasil avança na restauração dos biomas e reforça sua posição no cenário global de sustentabilidade.

    A Morfo Brasil, fundada em 2022, contribui com inovações. A startup desenvolveu uma metodologia para restauração florestal em larga escala, utilizando inteligência florestal, implementação escalável com drones e monitoramento por inteligência artificial.

    A empresa já catalogou mais de 360 espécies nativas, mas muitas ainda precisam de estudos sobre beneficiamento e armazenamento. A Embrapa, com sua experiência de décadas, fornece apoio em tecnologias e políticas públicas para recuperação ambiental.

    O Compromisso com a Restauração

    As duas instituições trabalham juntas para unir inovação científica e inteligência prática. Isso é fundamental para alcançar as metas de restauração no Brasil, que visa restaurar 12,5 milhões de hectares até 2030. Esse compromisso está alinhado com acordos internacionais, como o Acordo de Paris e o Desafio de Bonn.

    Ao se comprometer oficialmente em 2015, o Brasil se consolidou como líder em reflorestamento e conservação. O avanço em tecnologia de sementes florestais é crucial para a recuperação de áreas degradadas e para o fortalecimento dos biomas diante das mudanças climáticas e outros desafios ambientais.

    Com todas essas iniciativas, o Brasil mostra um caminho claro em direção a um futuro mais sustentável, integrando ciência, comunidade e conservação.

    Share.