Trabalhar em casa virou uma prática comum em muitos países, incluindo o Brasil. Essa mudança traz à tona diversas questões sobre a saúde mental dos trabalhadores. Um novo estudo analisou dados de mais de 16 mil trabalhadores australianos para entender melhor os impactos do trabalho remoto.
Os pesquisadores focaram em 20 anos de informações coletadas pela Pesquisa Nacional de Dinâmica Familiar, Renda e Trabalho na Austrália, ignorando dois anos da pandemia de Covid-19. Isso se deve ao fato de que o período da pandemia pode ter afetado a saúde mental das pessoas de maneiras que não estão relacionadas ao trabalho remoto.
O estudo analisou a saúde mental dos trabalhadores em relação ao tempo que eles gastam se deslocando e às suas condições de trabalho. Os pesquisadores notaram que as mudanças na saúde mental dos indivíduos não eram influenciadas por eventos significativos em suas vidas, como mudanças de trabalho ou nascimento de filhos.
Uma das descobertas mais relevantes é que o impacto do deslocamento diário na saúde mental varia entre homens e mulheres. Para as mulheres, o tempo de deslocamento não influenciou sua saúde mental de forma significativa. Já entre os homens, deslocamentos mais longos estavam associados a uma piora na saúde mental, especialmente para aqueles que já enfrentavam problemas nessa área.
Um homem com saúde mental média que aumenta seu deslocamento em meia hora pode registrar uma queda na sua saúde mental semelhante a uma redução de 2% na renda familiar. Isso demonstra que o tempo gasto em deslocamentos pode se refletir não apenas na saúde mental, mas também na satisfação com a vida.
Por outro lado, o trabalho remoto mostrou-se benéfico especialmente para as mulheres. Os maiores ganhos em saúde mental ocorreram quando elas trabalhavam principalmente em casa, mas ainda tinham interações presenciais, como um ou dois dias por semana no escritório. Para mulheres com histórico de problemas de saúde mental, essa configuração levou a melhores resultados em comparação ao trabalho apenas presencial. Os benefícios foram equivalentes a um aumento de 15% na renda familiar.
Além do tempo economizado em deslocamentos, outros fatores positivos foram apontados, como a redução do estresse no trabalho e uma melhor conciliação entre a vida profissional e pessoal. No entanto, o trabalho remoto ocasional não apresentou efeitos claros sobre a saúde mental das mulheres, e as evidências sobre o trabalho remoto completo foram menos conclusivas, já que o número de mulheres nessa condição era relativamente pequeno.
Para os homens, os efeitos do trabalho remoto na saúde mental foram menos significativos, o que pode estar relacionado ao modo como as tarefas são distribuídas nos lares e à natureza das relações sociais deles, que frequentemente estão mais alinhadas ao ambiente de trabalho.
Os pesquisadores destacam que trabalhadores que têm problemas de saúde mental são os mais afetados por longos deslocamentos e também os que mais se beneficiam de regimes de trabalho remoto. Isso se deve ao fato de que essas pessoas têm uma capacidade reduzida para lidar com estresse.
Com base nas descobertas, recomendações foram feitas para diferentes públicos. Para os trabalhadores, é importante observar como o deslocamento e o modelo de trabalho impactam o bem-estar. Aqueles com problemas de saúde mental devem planejar atividades mais exigentes para os dias em que se sentem mais confortáveis.
Os empregadores, por sua vez, são incentivados a oferecer horários flexíveis e considerar modelos híbridos que incluam tanto o trabalho em casa quanto no escritório. É fundamental reconhecer que o tempo de deslocamento deve ser levado em conta nas discussões sobre carga de trabalho e bem-estar, evitando políticas que sejam iguais para todos.
Por fim, para aqueles que formulam políticas públicas, a recomendação é investir na melhoria do transporte público e na redução do congestionamento, além de promover estruturas que incentivem horários de trabalho flexíveis e o acesso a serviços de saúde mental. Essas iniciativas podem ajudar a criar um ambiente de trabalho mais saudável e produtivo.
