O que distingue um assassino profissional de alguém que leva uma vida “normal”? Segundo o personagem principal da série em quadrinhos francesa “The Killer”, a resposta é simples: nada. Ele acredita que todos, de alguma forma, são assassinos, já que toda vida exige uma certa violência para se estabelecer no mundo.
O quadrinho, escrito por Matz e ilustrado por Luc Jacamon, é conhecido por sua narrativa envolvente, onde o protagonista transita por lugares como França, Nova York e Venezuela, se envolvendo com assassinos, chefes de drogas, policiais e personagens excêntricos. A obra ganhou notoriedade principalmente porque serviu de inspiração para o filme homônimo de 2023, dirigido por David Fincher. Enquanto o quadrinho aborda uma reflexão mais profunda sobre a psique do protagonista, o filme adota um tom mais leve e irônico, fazendo paródia do gênero de assassinos.
O volume completo de “The Killer” possui 750 páginas, o que permite uma exploração mais rica e detalhada da narrativa. Ao longo da leitura, o leitor compreende o personagem, conhecido como “killer” ou “Christian”, de maneira mais profunda que ele mesmo se entende. Seu raciocínio para justificar suas ações, ao comparar suas ações a atrocidades históricas, como os Conquistadores e o genocídio em Ruanda, revela uma certa delusão, o que instiga a reflexão sobre moralidade e humanidade.
O protagonista reflete sobre o ato de matar e o verdadeiro poder por trás de decidir quem vive e quem morre. Ele se considera manipulado pelo sistema, afirmando que sua principal motivação é o dinheiro. No entanto, a trama mostra que, ao tomar a decisão de assassinar um pacificador famoso, ele desencadeia uma série de eventos que o coloca no centro de uma conspiração maior, afetando politicamente uma região.
Mesmo diante de sua determinação em evitar o caos em que se encontra, o assassino se vê cada vez mais envolvido. O desfecho da história levanta dúvidas sobre sua evolução como personagem, já que sua autocrítica se mescla com justificativas para seus atos violentos.
David Fincher, conhecido por suas obras de crítica social e de alienação no capitalismo, encontrou no quadrinho elementos que ressoam com seus filmes anteriores, como “Clube da Luta” e “Seven”. A adaptação cinematográfica, escrita por Andrew Kevin Walker, leva a narrativa por caminhos diferentes. O personagem de Fassbender, por exemplo, apresenta um tom sarcástico, refletindo sobre trivialidades enquanto aguarda sua próxima vítima, mas em contrapartida, acaba sendo menos astuto e mais propenso a falhas em comparação ao assassino do quadrinho.
Através de humor e ironia, o filme sugere que o personagem, que acredita ser superior à sua condição, na verdade é apenas mais uma engrenagem de uma economia saturada. Para os fãs do quadrinho que podem não apreciar as mudanças do filme, a obra original permanece como uma rica exploração da mente de um personagem complexo e moralmente questionável.
