Resumo

    Uma análise da população mostrou que idosos que tomaram a vacina contra o herpes zoster tiveram menos chances de desenvolver demência nos sete anos seguintes. O estudo aproveitou uma política de distribuição da vacina por idade, semelhante a um experimento aleatório, ajudando os pesquisadores a identificar o efeito real da vacina.

    Além de prevenir a demência, a vacina também estava associada a um avanço mais lento da doença e a taxas de mortalidade menores entre aqueles que já tinham demência. Esses resultados reforçam a ideia de que infecções virais podem influenciar doenças neurodegenerativas, um aspecto ainda pouco explorado.

    Fatos principais

    1. Redução do risco de demência: Adultos vacinados tiveram 20% menos chance de desenvolver demência em sete anos.

    2. Potencial terapêutico: Indivíduos com demência que foram vacinados tiveram menor risco de morte relacionada à doença.

    3. Pista biológica: As descobertas apoiam a teoria de que a reativação de vírus adormecidos pode contribuir para o desenvolvimento da demência.

    Uma política de saúde pública peculiar

    Recentemente, um estudo de Medicina em Stanford revelou que uma estratégia de saúde pública no País de Gales pode ter demonstrado que vacinas reduzam o risco de demência. Ao analisar os registros de saúde de idosos galeses, os pesquisadores descobriram que aqueles que receberam a vacina contra o herpes zoster tiveram 20% menos chances de desenvolver demência nos sete anos seguintes, em comparação a quem não foi vacinado.

    Os achados, publicados em um renomado periódico, sustentam a teoria de que algumas infecções virais podem aumentar o risco de demência. Se mais evidências confirmarem isso, poderemos ter uma intervenção preventiva já disponível.

    Um experimento natural

    Dois anos atrás, os pesquisadores perceberam um “experimento natural” no processo de vacinação que ajudou a eliminar a possível parcialidade das análises. A vacina utilizada naquele momento era uma forma atenuada do vírus.

    O programa de vacinação começou em 1º de setembro de 2013, permitindo que quem tinha 79 anos nessa data pudesse se vacinar por um ano. Aqueles com 78 anos podiam se vacinar no ano seguinte e assim por diante. Quem tinha 80 anos ou mais não poderia se vacinar.

    Esse critério de distribuição significava que a pequena diferença de idade entre os que tinham 79 e 80 anos afetava quem tinha acesso à vacina. Comparando os que completaram 80 anos antes ou depois dessa data, os pesquisadores puderam identificar o efeito do recebimento da vacina.

    Resultados comparativos

    Os pesquisadores analisaram os dados de mais de 280 mil idosos de 71 a 88 anos que estavam saudáveis no início do programa de vacinação. Eles concentraram sua análise naqueles próximos ao limite de elegibilidade, comparando os que completaram 80 anos antes com os que completaram logo depois.

    Através desse método, os pesquisadores conseguiram um resultado comparável a um ensaio controlado aleatório. Isso foi possível porque as duas populações eram muito semelhantes, exceto por essa diferença de idade.

    Proteção contra a demência

    Nos anos seguintes, os pesquisadores observaram como a saúde dos idosos se desenrolou com base na elegibilidade para a vacina. Aproximadamente 50% dos que puderam se vacinar receberam a vacina, enquanto quase ninguém dos inelegíveis tomou.

    O estudo revelou que a vacina resultou em uma redução de 37% na ocorrência de herpes zoster entre os vacinados. Em 2020, um em cada oito idosos tinha sido diagnosticado com demência, mas aqueles que receberam a vacina apresentaram 20% menos chance de desenvolver a condição.

    Adicionando dados

    Os pesquisadores buscaram outras variáveis que poderiam influenciar o risco de demência, mas as características eram iguais entre os dois grupos. Eles não encontraram diferenças significativas em fatores como nível educacional, hábitos de saúde ou ocorrência de outras condições, como diabetes e doenças cardíacas.

    O único resultado notável foi a diminuição dos casos de demência entre os vacinados. Esse método único de análise reduziu as chances de viés, que são comuns em estudos anteriores.

    Análise adicional

    Os dados analisados ainda mostraram que os benefícios da vacina se estendiam desde os primeiros sinais de comprometimento cognitivo até as fases mais avançadas da demência. O comprometimento cognitivo leve é uma condição que pode anteceder a demência, e os resultados mostraram que os vacinados tinham menos chances de serem diagnosticados com essa condição após nove anos.

    Além disso, aqueles que receberam a vacina após um diagnóstico de demência tiveram menor taxa de mortalidade nos nove anos seguintes, sugerindo que a vacina pode ajudar a desacelerar a progressão da doença.

    Diferenciação por gênero

    Os achados mostraram também que a proteção contra demência foi mais significativa em mulheres do que em homens. Isso pode estar relacionado a diferenças na resposta imunológica entre os gêneros. As mulheres, em média, respondem melhor às vacinas, e o herpes zoster é mais comum entre elas.

    Ainda não se sabe ao certo se a vacina age aumentando a imunidade de forma geral, reduzindo especificamente a reativação do vírus ou se existe algum outro mecanismo de proteção.

    Futuras investigações

    Os pesquisadores esperam que essas descobertas incentivem mais investimentos nesse campo de pesquisa, dado que entender essas relações pode levar a avanços em tratamento e prevenção.

    Nos últimos dois anos, a equipe de pesquisa conseguiu reproduzir esses achados em dados de outros países, como Inglaterra, Austrália, Nova Zelândia e Canadá, onde condições semelhantes de vacinação ocorreram.

    O próximo passo é realizar um grande ensaio controlado aleatório que fornecerá uma evidência mais robusta. Participantes seriam escolhidos aleatoriamente para receber a vacina ou um placebo.

    Essa experiência não demandaria muito tempo para apresentar resultados, já que em outros dados as diferenças de taxa de demência começaram a se manifestar em cerca de um ano e meio.

    Esse tipo de estudo poderia marcar um importante avanço no entendimento das interações entre vacinas virais e a saúde do cérebro, potencialmente influenciando direções futuras em tratamentos de demência.

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